Cinco mil famílias moram em áreas de risco na capital

As recentes mortes provocadas pelos alagamentos e desmoronamentos em Minas Gerais chocaram a todos que viram as imagens pela televisão ou fotos nos jornais. A tragédia mineira também chamou a atenção para famílias que moram em locais de risco por todo o País. Curitiba não foge à regra. Na capital, o maior perigo vem das enchentes, já que muitas das ocupações da capital ficam em áreas de fundo de vale (margens de rios e riachos). A Prefeitura estima que hoje 5 mil famílias morem em áreas de risco e precisem ser relocadas.

Dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) mostram que existem 262 áreas de ocupação na cidade. Cerca de 215 mil pessoas, ou 13% da população total de Curitiba, moram em lotes irregulares. Todavia, a presidente da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), Teresa Elvira Gomes de Oliveira, explicou que nem toda área irregular é considerada área de risco. “Há certos locais que despertam muita preocupação. A Vila 23 de Agosto, às margens do Ribeirão dos Padilhas, na zona sul de Curitiba, recentemente sofreu com enchentes. Ela é uma de nossas grandes preocupações”, destacou, citando o Bolsão Audi/União e a Vila Três Pinheiros como outras áreas perigosas.

Teresa explicou que para haver a relocação das famílias ribeirinhas para lugares adequados é necessária uma ação conjunta de várias secretarias. “Não adianta tirar e deixar o local vago, alguma obra tem que ser feita para que aquele local não seja invadido novamente.” Ela lembrou que, em 1994, 220 famílias da 23 de Agosto foram relocadas para as Moradias Madre Tereza, e já em janeiro de 95 novas famílias reinvadiram o local. “O processo de relocação é complicado. Primeiro tem que se convencer as pessoas, que muitas vezes ignoram o perigo e teimam em não sair. Outro problema é que para cada relocação deve existir um trabalho paralelo de produção de casas para as pessoas que fazem parte da fila da Cohab. Senão os 60 mil que esperam desesperadamente por uma casa vão sair da fila e começar a invadir achando que é mais rápido”, afirmou.

A presidente disse que para cada família relocada são necessários R$ 7 mil. Curitiba tem hoje 5 mil famílias precisando de relocação.

Sem solução

A preocupação e o desejo de uma casa num local melhor é comum a todos os moradores de ocupações. Contudo, esse anseio esbarra principalmente na falta de recursos. Na Vila 23 de Agosto os moradores ainda contam as perdas da última enchente em dezembro passado. Selma Liberato Lima, de 26 anos, contou que deixou o emprego de doméstica por preocupação com a chuva. “Tenho filho pequeno e fico com medo de deixá-lo sozinho e acontecer uma tragédia como aconteceu em dezembro. Quando começa a chover a preocupação aqui é tão grande que quase nem dormimos”, lamentou.

O pedreiro Adão Fernandes de Oliveira, 41, é vizinho de Selma, com um agravante: sua pequena casa de madeira é exatamente ao lado do Ribeirão dos Padilhas. Ele contou que perdeu móveis e alimentos no último alagamento. “Vontade de sair, tenho, mas não há como. Não sabia que era uma área de enchentes quando cheguei aqui”, contou, lembrando que foi um dos primeiros a ocupar o local.

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