Deslizamentos de terra, entre os quilômetros 44 e 47, impediram o fluxo normal de veículos, ontem, na BR-277, que liga Curitiba ao litoral do Estado. O problema foi causado pelas chuvas fortes e ininterruptas que atingiram a região na madrugada de domingo para segunda-feira. Somente às 16h45, após 16 horas de interdição, a rodovia foi liberada nos dois sentidos, em meia pista. A liberação total estava prevista para a madrugada de hoje.
Segundo a Ecovia, concessionária responsável pela estrada, foram verificados treze pontos de deslizamentos no trecho da BR. Porém, a situação era mais grave em três locais: nos quilômetros 44 e 47 da pista de subida para Curitiba e no quilômetro 43 da pista de descida para o litoral. Estes pontos ficaram quase que inteiramente interditados pela terra e por galhos de árvores. O trânsito ficou complicado durante todo o dia. Enormes filas se formaram nos dois sentidos da pista. Ficou liberada apenas meia pista no sentido Paranaguá-Curitiba, causando grande congestionamento. Durante grande parte do dia, também devido às quedas de barreira, a PRF teve que liberar intercaladamente apenas um dos sentidos da rodovia.
O primeiro deslizamento registrado pela Ecovia aconteceu às 10h30 de anteontem. Na madrugada de ontem, a partir das 3h30, a rodovia ficou completamente interrompida, o que provocou um congestionamento de quatro quilômetros na pista de subida. Às 9h, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, a concessionária iniciou um revezamento entre descida e subida de veículos pela pista que leva ao litoral, sendo que a de acesso à capital estava em pior situação.
Transtorno
A atividade consistiu em bloquear a pista de descida no quilômetro 49 para que os carros e caminhões parados na subida pudessem avançar em contramão. Quando o fluxo intenso de veículos em direção à Curitiba se esgotava, a pista de descida era novamente liberada para os motoristas que iam em direção à Paranaguá. Em todos os casos, os veículos eram escoltado por viaturas da Ecovia e da Polícia Rodoviária, atingindo velocidade média de 50 km/h.
Na praça de pedágio da BR-277, os funcionários das cancelas orientavam os motoristas a voltarem para suas casas. Quinze caminhões e três escavadeiras foram levados para os pontos mais críticos.
Para dificultar ainda mais a vida de quem descia para o litoral ou subia para Curitiba, alguns trechos da Estrada da Graciosa estavam intransitáveis. Na PR-408, que liga a BR-277 ao município de Morretes, o Rio do Pinto transbordou e a passagem de veículos também foi interditada.
Também aconteceram quedas de barreira na BR-412 no trecho entre Garuva e Guaratuba e na PR-090 que liga à cidade de Jaguariaíva. A Estrada da Graciosa também permaneceu fechada durante boa parte do dia devido à cheia do Rio Nhundiaquara.
Enchentes e desabrigados em Morretes
A cidade histórica de Morretes, no litoral do Estado, ficou completamente embaixo d?água ontem. As fortes chuvas provocaram o transbordamento dos rios do Pinto e Marumbi. O Rio Nhundiaquara, principal da cidade, não chegou a transbordar mas atingiu seu limite. Cerca de 1.500 pessoas foram atingidas, 110 delas tiveram que sair de suas casas durante a manhã. No período da tarde o número de desabrigados caiu pela metade. Eles foram conduzidos aos colégios Rocha Pombo e Jandir da Palmeira. No início da tarde o prefeito da cidade, Hélder Teófilo dos Santos (PMDB), decretou situação de emergência.
Santos disse que esta foi a pior enchente desde 1988. Ele informou que a região entre os bairros de Anhaia e Rodeio ficaram isoladadas. “Precisa ser feito um trabalho de dragagem nos principais rios do município para que isto não volte a acontecer. O Nhundiaquara, por exemplo, está totalmente assoreado. Há locais nele onde se pode caminhar a pé”, contou o prefeito, destacando que já fez solicitações sobre o problema à Suderhsa.
Conforme o Genero, da Defesa Civil, 14 bairros da cidade sofreram danos com as chuvas. “As localidades mais complicadas de trabalhar foram a Vila Palmeiras, Rio do Pinto, Rocio e o Centro da cidade”, contou.
Os bairros atingidos pela chuva foram: Anahia, Rio do Pinto, Rocio, Vila dos Ferroviários, Centro, América de Cima, América de Baixo, Marumbi, Rio Sagrado de Baixo, Pitinga, Raia Velha, Vila Palmeiras, Vila Freitas e Barreiros.
Esperando ajuda
A PR-408 que liga a BR-277 e Morretes ficou parcialmente interditada ontem. Neli Guedes de Oliveira, moradora há 13 anos, às margens desta rodovia foi uma das que mais sofreu com as chuvas. Ela, o marido e duas filhas moravam numa casa de madeira e trabalhavam fazendo suco de maracujá num cômodo feito de concreto. “Estamos todos ilhados nesse cômodo. Nossa casa, que era de madeira, está toda inundada. A estrutura está para cair e não temos para onde ir”, disse, contando que esperava ajuda oficial para ser levada para um abrigo.
O morador do Rocio, Saulo Emanuel Gubert, teve seu quintal todo inundado, chegando a perder dois freezers. “Moro há pouco tempo aqui. É a primeira vez que vejo enchente. Lá pelas 5h vi muitas várias pessoas fugindo de barco”, contou Gubert.
Outras cidades
A chuva também afetou outras localidades do litoral, porém não aconteceu registro de desabrigados. A igreja matriz de Matinhos ficou completamente ilhada durante a tarde.
Em outras cidades do Estado também aconteceram problemas. A Defesa Civil registrou 20 famílias desabrigadas em Piraí do Sul e 10 famílias em Jaguariaíva. Segundo o Simepar, ainda não há previsão de que o tempo melhore em Curitiba e no Litoral do Estado. A previsão é de mais dias nublados, com pancadas de chuva. Porém, a situação é diferente nas regiões Oeste e Sudoeste. Ontem o tempo estava estável. Nos próximos dias deve haver pancadas de chuvas isoladas. (Lawrence Manoel)