Cegos superam limites e enfrentam o preconceito

Assim como as mulheres lutaram para mudar as leis e conquistar o direito do voto, os deficientes visuais, que hoje comemoram seu dia, precisam lutar para vencer o preconceito da sociedade e mostrar seu direito de igualdade. É o que defende o advogado Luiz César Trevisan, que ficou cego aos vinte anos. Ele acaba de ser aprovado no curso da Escola da Magistratura. É uma história que pode ser considerada de sucesso para um portador de deficiência, já que nem todos conseguem vencer o preconceito da sociedade e dos próprios deficientes.

Para a interventora do Instituto de Cegos do Paraná, Maria Regina de Melo Boscardin, é preciso acabar com o tratamento paternalista. “É necessário dar mais ênfase ao ser humano, pois a superação do problema ocorre de forma natural”, disse. Segundo ela, é com essa visão que o instituto vem desenvolvendo suas atividades. No local ? que atende 68 internos e outros trezentos deficientes diariamente ?, são desenvolvidas diversas oficinas de artes, cursos profissionalizantes, e acompanhamento médico e psicológico.

Maria Regina acrescenta que todos as pessoas que têm condições freqüentam escolas normais, o que ajuda a quebrar preconceitos e situações de isolamento. Além disso, participam de atividades dentro do instituto, que servem para o desenvolvimento pessoal. É o caso das internas Jaci Guimarães Mendes e Maria Erlita Kieski, que coordenam o setor de artesanato do local.

A interventora do instituto entende que é preciso uma maior conscientização tanto dos portadores como da sociedade. “Muitas empresas ficam com receio de contratar um deficiente por não saber lidar com ele. Já os deficientes precisam mostrar seu potencial para serem valorizados como qualquer funcionário”, disse. A mesma opinião defende Luiz César Trevisan. Ele defende que o deficiente precisa se qualificar para competir com igualdade.

Dificuldades

A Organização das Nações Unidas estima que 0,5% da população é portadora de algum tipo de deficiência visual. No Paraná esta população pode chegar a 45 mil pessoas. Porém, comenta o advogado, esses números não são trabalhados porque não são interessantes para os governantes. “Cego não dá ibope porque não rende muitos votos, e não é interessante para uma cidade ter um grande número de deficientes”, avaliou.

Segundo o advogado, as empresas que desenvolvem equipamento para essa clientela ainda são poucas, “até porque cego não dá muito dinheiro, e os portadores sempre são associados à pobreza”. Luiz César comentou que somente em 1996 os computadores com comando de voz começaram a chegar ao Brasil, o que facilitou para uma parcela de cegos maior acesso a informações. Ele citou que o acervo de livros em braile no Paraná é de cerca de 1.500 títulos, sendo que 70% estão desatualizados.

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