Cartões mudam perfil dos cobradores

A Urbs, empresa que gerencia o transporte coletivo em Curitiba, já emitiu 455.700 cartões-transporte da meta prevista de 500 mil. Os números mostram que a maioria da população está aderindo ao novo sistema. Com isto, o perfil dos cobradores de ônibus começa a mudar. Eles passam a ser uma espécie de fiscal e têm mais tempo para dar atenção e ajudar os usuários.

Na avaliação do supervisor de tráfego da Viação Marechal, Paulo César Ferreira, o cartão não vai substituir o cobrador, mas apenas mudar um pouco o trabalho. Agora, eles terão mais tempo para ajudar a população. “Um cobrador chega a atender até 700 pessoas por dia e precisa de jogo de cintura para dar conta do recado.” Na Viação Marechal, eles fazem cursos a cada três meses e aprendem noções de relações interpessoais e como tratar os usuários, que ganham o título de clientes. “São estimulados a dizer bom dia, ajudar idosos a subir e descer do ônibus, senhoras com sacolas e até prestar informações”, cita Ferreira. Segundo ele, a empresa tem recebido elogios pelo atendimento.

O presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), Denilson Pires, diz que os cobradores são a favor do cartão-transporte, já que diminui a quantidade de dinheiro circulando. Na opinião dele, “o resultado disso deve ser a queda ou, quem sabe, a inexistência de assaltos”. O presidente do Sindimoc cita que em 1988 foram registrados 900 assaltos por mês. “Com o trabalho do sindicato e as ações das polícias Militar e Civil, os números caíram hoje pela metade”, aponta.

Acácio Manoel Fernandes, 81 anos, não deve ter dificuldades para se adaptar à nova realidade. Ele já foi vendedor e sabe muito bem como tratar os “clientes”. “Aqui a gente brinca e conversa com todo mundo”, comenta. Esse relacionamento com o público o ajuda até a resolver problemas com o troco. “Uma senhora me trouxe R$ 10 em moedas de R$ 0,05”, diz.

João Valter Mazurek, 30 anos, também está apostando nas mudanças. Ele já sofreu um assalto e, mesmo colaborando, foi atingido por duas coronhadas. Alguns dias depois, um colega que fazia a mesma linha acabou morrendo. Para João, a categoria não vai ter dificuldade para se adaptar ao novo perfil, já que as empresas têm feito um trabalho de instrução neste sentido. “Tem gente que chega mal-humorada, mas somos orientados a contornar a situação”, diz. O presidente do Sindimoc ressalta que existe a preocupação da categoria em tratar bem a população, mas é necessário haver uma contrapartida dos usuários. Em Curitiba e Região Metropolitana atuam 4.900 cobradores. Destes, 88% são do sexo masculino.

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