Velhos, mas visados

Carros antigos também são procurados por ladrões

Carros antigos estão cada vez mais visados por criminosos, que buscam por peças originais que já deixaram de ser fabricadas e, normalmente, são vendidas em desmanches. O aposentado Antônio Araújo Chaves, 65 anos, passou pela experiência de ter o carro antigo furtado de dentro de um hipermercado no Centro Cívico no início de novembro.

O Volkswagen Fusca, modelo 1984, azul, foi comprado no ano passado por cerca de R$ 4 mil. Como a intenção era transformar o automóvel numa relíquia, Antônio começou a equipar o carro com rodas de alumínio, motor, caixa longa, gastando ao todo R$ 12 mil. “É um carro muito visado. Por isso não fazem nem seguro. Tinha acabado de pegá-lo na oficina. Só queria saber como é que levaram embora o carro, tendo câmera de segurança no mercado. Além disso, o cartão do estacionamento e o ticket das compras ficaram comigo”, desconfia o dono do carro. “Perdi tempo e negócios porque furtaram meu carro”, lamenta.

O aposentado disse que entrou em contato com o hipermercado para negociar o ressarcimento do valor. O estabelecimento teria lhe oferecido R$ 6 mil. O modelo ano 84, porém, está fora de série e não consta mais na tabela Fipe. O mais antigo é de 1985, que vale em torno de R$ 6.300. “Eu queria que eles me pagassem os R$ 12 mil que usei para equipar o carro também. Se me oferecessem 70% do total, já aceitava. É difícil de avaliar o preço de um carro antigo. Tem Fusca que vale até R$ 50 mil”, afirma.

Antônio foi até a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV) para registrar boletim de ocorrência e pretende entrar na Justiça caso não haja acordo com o mercado. “Sinto que eles estão me enrolando”, disse.

Delegado diz que furtos são diários

Apesar de não haver estatística sobre roubo e furto levando em conta o modelo de carro, o delegado Renato Bastos Figueiroa, titular da DFRV, afirma que diariamente há registros de automóveis antigos levados por bandidos em Curitiba. “A preferência ainda é por carros populares novos, mas diariamente há um furto ou outro de carro antigo. Tivemos recentemente o furto de um Passat ano 1983 e o de um Chevette ano 1993”, disse. Renato explica que as estatísticas são feitas baseadas na quantidade de carro roubados e furtados. “Geralmente eles furtam carros que já saíram do mercado há alguns anos e as pessoas têm dificuldade na reposição de peças”, explicou.

O delegado disse ainda que casos de furto em supermercado são esporádicos. “Os estacionamentos normalmente são equipados por câmeras, e, obviamente, os ladrões preferem pegar o carro que está na rua”, avalia.

Fusca é o modelo mais desejado pelos bandidos

O Fusca de Antônio ainda não é considerado um carro de colecionador, aquele que leva as placas pretas. Segundo Aramis de Macedo Secundino, diretor técnico do Clube de Colleccionadores Vehiculos Antigos, de Curitiba, os automóveis devem ter 30 anos, altíssimo índice de originalidade e excelente estado de conservação para alcançar esse status e obter o certificado. Mas quando o assunto é carro antigo furtado, o primeiro da lista é o Volkswagen, mesmo porque é o mais fácil de encontrar pelas ruas. “Ele é muito procurado por ladrões, seja de coleção ou não, porque é um carro cuja mecânica é requisitada. Muitas vezes, usam os acessórios e partes do Fusca para transformar em buggy. Eu sei porque ouço falar”, disse.

Para se precaver da ação de bandidos, Aramis disse que é possível instalar travas e alarmes mesmo em carros antigos. “Às vezes é dificultoso porque não existe acessório de segurança para a voltagem do carro mais antigo. Mas é possível colocar uma chave que desliga a direção, trava de pedal”, afirma Aramis, que segue a mesma ,linha de raciocínio de Antônio quanto ao valor de um carro antigo: não há como medir o valor sentimental. “Não tem como fazer uma estimativa de preço de um veículo fora de série, velho, que não consta nas tabelas. Você pode até pegar revistas americanas para ver quanto foi vendido. Mas cada carro é diferente”, explica.

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