Capital deixa crianças sem educação especial

Desde que as aulas começaram neste ano, em fevereiro, crianças com necessidades especiais estão fora da escola em Curitiba, devido à falta de transporte. No início de abril, a Prefeitura havia se comprometido a resolver a situação em 30 dias, mas o prazo já está vencendo e o problema continua sem previsão de solução.

Enquanto o tempo passa, várias crianças estão queimando fases de desenvolvimento, pois estão fora da escola. Só na Unidade de Educação Especial Helena Vladimir Antipoff, no bairro Boqueirão, 15 alunos estão matriculados, mas não freqüentaram nenhum dia de aula. As mães moram em bairros distantes e não têm tempo e dinheiro para levá-los até a escola. Segundo as pedagogas, quanto mais cedo começam os estímulos, mais a criança vai desenvolver sua autonomia quando adulto.

Roselis de Santana tem uma filha de 3 anos que necessita de atendimento especial. Ela não consegiu participar de aula alguma. Roselis mora no bairro Centenário e precisa pegar três ônibus para chegar até a escola. Além do tempo gasto no trajeto, uma hora e meia, o maior problema é a falta de dinheiro para a passagem. Quando as mães retornam sozinhas, não têm o passe livre. “Fico preocupada. Quanto mais cedo a minha filha estudar, será melhor para ela”, diz.

Irondina Ribeiro da Silva cuida do neto de 11 anos e está tendo até problemas com o Conselho Tutelar. O órgão cobra a frequência do menino nas aulas. “Mas não é culpa minha. Ele está matriculado e não tem ônibus”, diz. O Conselho Tutelar do Boa Vista, onde o menino estaria sendo acompanhado, não achou o registro da criança, mas informou que quando ocorrem casos como esse é feita uma solicitação ao órgão competente, pedindo providências.

Sacrifícios

Porém, o problema não atinge apenas quem está fora da escola. Algumas mães, para não verem o desenvolvimento do filho comprometido, pararam de trabalhar ou perdem oportunidades de emprego para acompanhá-los até a escola. Luzia Teodoro sai de casa todo dia às 6h para chegar às 7h30 na unidade. Devido à falta de dinheiro, fica com mais quatro mães esperando a aula dos filhos acabarem para depois ir embora. “Já perdi até uma oportunidade de emprego, mesmo precisando dele para manter a casa”, fala.

Segundo a pedagoga da unidade, Mara Lucia Trevisan Ribeiro, a situação não pode continuar como está. “As crianças com deficiências são as que mais precisam de estímulos”, comenta. Ela lembra ainda que todas as famílias que estão passando pelo problema são carentes. Mais de cem crianças estão sem transporte em Curitiba.

Na quarta-feira, a reportagem de O Estado tentou entrar em contato com a Urbs para saber como e quando a situação será resolvida, mas não conseguiu retorno.

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