Capital atrai doentes de cidades vizinhas

As Unidades de Saúde 24 horas de Curitiba, especialmente a do bairro do Boa Vista (zona norte), estão enfrentando um problema sério: a demanda de pacientes que residem em outros municípios da Região Metropolitana vem aumentando, o que compromete o atendimento aos moradores da capital.

De acordo com a chefe da Unidade Boa Vista, enfermeira Joaninha Lara, em 1998 o número de pacientes de outras cidades representava 28% dos atendimentos. Em 2002, o índice saltou para 38%. “Há dias em que chega a 50%”, atesta a enfermeira. A Unidade Boa Vista realiza cerca de 500 atendimentos por dia.

De acordo com a chefe da Unidade, os moradores são principalmente de Almirante Tamandaré. “Quase 90% dos pedidos feitos durante campanha eleitoral em outubro último foram pela instalação de uma unidade 24 horas em Tamandaré”, lembra Joaninha.

Para a médica Ana Luíza Gondim, diretora do Centro de Assistência à Saúde, o maior problema é comprometimento da verba repassada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a Curitiba. “A gente tem recurso para atender apenas aos curitibanos. Tivemos várias discussões com a Secretaria Estadual de Saúde, pedindo um “plus? (acréscimo de verba)”, aponta a médica. Segundo ela, uma das grandes dificuldades é quantificar quem é ou não de Curitiba. “O número de pacientes de outros municípios aumenta a cada ano. E quando é liberado o “plus? já não é mais suficiente para os nossos atendimentos”, diz.

De acordo com Joaninha, pelo menos 15% dos que declaram ser de Curitiba não são de fato. “Eles conseguem comprovante de endereço de algum parente e trazem para a gente fazer a ficha”, conta. Ela lembra, no entanto, que o atendimento não é diferenciado.

Emergência

Ana Luíza chama a atenção para outro problema: apesar de as unidades 24 horas terem sido criadas com o objetivo de prestar serviços de emergências, muitos as procuram para atendimento básico, como sintomas de dor de cabeça, gripe, mal-estar ou vacinação. “Isso perturba o funcionamento da unidade e, às vezes, até cria confusão, porque há má interpretação por parte dos pacientes”, relata. Ela lembra que nas unidades, o atendimento segue o critério da emergência e não de ordem de chegada.

Curitiba conta com cinco unidades 24 horas ? Boqueirão, Sítio Cercado, Fazendinha, Campo Comprido e Boa Vista ? e 97 unidades básicas.

Faltam médicos em municípios

Lyrian Saiki

A dona-de-casa Neiva Schneider, moradora de Almirante Tamandaré, era uma das pessoas que aguardavam atendimento ontem na Unidade Boa Vista. Sua filha Gabriela, de cinco meses, estava com febre alta. “O posto de saúde de Tamandaré só atende 16 crianças por dia e apenas pela manhã”, conta Neiva. “Para a gente conseguir consulta, demora de dois a três dias”, completa o pai de Gabriela, Moisés F. da Silva.

Situação semelhante era o de Elaine Ribeiro e seu pai José, ambos de Itaperuçu, que aguardavam na fila. A filha de Elaine, Letícia, de dois anos e sete meses, estava com tosse e dor no peito. “Ela foi levada ao posto de saúde de Pinhais, mas não resolveu o problema”, conta o avô da criança, que, há quase dez dias, precisou de consulta médica e veio à Unidade Boa Vista. “Sempre que preciso venho para cá.”

A dona-de-casa Edinete Alves Mateus, de Pinhais, também aguardava atendimento. Estava com dores no estômago. “Há dois médicos na cidade, mas como estão indo embora, não fazem consulta há cerca de quinze dias”, conta Edinete. Para chegar à Unidade Boa Vista, Edinete levou quase uma hora e meia.

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