Mais uma vez o calendário da Universidade Federal do Paraná (UFPR) pode ser prejudicado. Os professores estão em negociação por melhores salários e uma possível paralisação não está descartada. Só agora, em 2004, o calendário havia voltado ao normal, devido à última greve – que durou cerca de quatro meses, em 2001. Mas além de atrapalhar o ano letivo, o atendimento no Hospital de Clínicas e as pesquisas também podem ficar prejudicados.

Desde 2001 o calendário da instituição está defasado. Os estudantes tiveram o período de férias reduzido e ainda voltaram para a sala de aula enquanto os outros curtiam o descanso na praia. A estudante de Jornalismo, Ana Patrícia de Oliveira Silva, 25 anos, diz que foi difícil encarar a situação, mas considera legítima a luta dos docentes. “A gente sabe das condições precárias e dos salários baixos”, afirma. Ela está no último ano e se preocupa com a possibilidade de a formatura ter que esperar um pouco mais. Mesmo assim, acha que vale a pena, se o resultado trouxer melhorias para a universidade. “Os professores também estão preocupados com a questão. Além disso, a qualidade do ensino fica comprometida mais pela falta de investimentos do que propriamente por uma paralisação”, opina.

Além dos alunos, a comunidade também pode sair prejudicada. Se a greve atingir o Hospital de Clínicas, pode haver redução de atendimento em vários setores como cirurgias, atendimento ambulatorial e pronto-atendimento. Por mês, 60 mil pessoas passam pelo HC, que é hoje o maior prestador de serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) do Paraná, atendendo mais de quarenta especialidades médicas. O hospital é também uma unidade-escola. Por ela passam mais de 3 mil alunos e estagiários de cursos como Medicina, Enfermagem, Nutrição e Farmácia.

Pesquisa

Outro setor que pode ter prejuízos é o de pesquisas. Atualmente, mais de mil são realizadas pela UFPR. Entre elas, a que estuda a aranha-marrom (Loxosceles intermedia), que no ano passado picou perto de 4 mil pessoas em Curitiba. Em 2003, a UFPR e a Universidade Federal de Minas (UFMG) descobriram a base experimental da vacina contra o veneno da aranha-marrom. O veneno da aranha pode provocar a necrose nos tecidos e também pode causar insuficiência renal.

O reitor da universidade, Carlos Augusto Moreira Júnior, sabe os prejuízos que uma greve pode acarretar e compara a instituição a uma grande engrenagem. “Se ela está funcionando, qualquer empurrão leva para frente. Mas quando está parada, demanda um certo tempo até que volte a operar com a capacidade máxima”, analisa. Para o reitor, “ainda deve haver muita discussão antes que os professores decidam por uma greve”. Na avaliação dele, existem muitas formas de pressionar o governo e o indicativo de greve é apenas uma delas.

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