José Bautista Vidal: “Óleo de
dendê em substituição ao diesel”.

O Brasil é o mais forte candidato a garantir energia ao mundo em um futuro próximo, graças a seu potencial de combustíveis renováveis, limpos e vegetais, que são a alternativa mais adequada para substituir o petróleo. Quem afirma é o professor José Walter Bautista Vidal, o brasileiro que é um dos principais especialista mundiais em energia e combustíveis.

Bautista é engenheiro com pós-graduação em Física pela Universidade de Stanford (EUA). Foi professor universitário, secretário de Estado de Ciência e Tecnologia, secretário de Tecnologia Industrial e principal implementador do Programa Nacional do Álcool. Atualmente presta consultoria a diversos organismos internacionais e também ao governo do Paraná.

Baustista diz que a opção pelos recursos naturais fósseis como o petróleo e o carvão mineral foi uma estratégia dos países hegemônicos, europeus e americanos, desprovidos de fontes de energia naturais, de grandes reservas hídricas e de luminosidade durante todo o ano.

O petróleo, no entanto, deve acabar, segundo especialistas, entre 20 e 50 anos. O fim iminente do combustível explicaria o caos no Oriente Médio e a marcha belicista anglo-americana. “Sem petróleo não há indústria, agricultura e comunicações. Os dirigentes dos países ricos sabem disso”, diz.

A marcha pelo combustível é considerada como suicida por Bautista. “Sabemos que o recurso vai acabar e que sua posse já gera conflitos no mundo. Nossa solução é buscar o desenvolvimento de alternativas”, explica.

As alternativas, no caso do Brasil, são várias. A celulose, os óleos vegetais, o amido e o açúcar seriam substitutos na geração de energia, no uso do combustível diesel e no uso da gasolina. “Só na Amazônia temos a capacidade de produzir 8 milhões de barris de óleo de dendê por dia. O óleo substitui perfeitamente o diesel”, explica.

E as potencialidades não estão restritas à Amazônia. Em todo País, existem elementos capazes de produzir combustíveis naturais. “Temos os recursos vegetais e o sol para desencadear o processo. Não podemos desperdiçar esse potencial”, diz. Desde a década de 70 o governo brasileiro estuda o uso dos combustíveis alternativos. Falta agora, segundo o professor, a vontade política de incentivar o aproveitamento dessa tecnologia em escala industrial.

Paraná

Pelos cálculos de Bautista, no Paraná, por exemplo, o uso da soja e do girassol poderia tornar o Estado auto-suficiente na produção de energia e gerar cerca de quatro milhões de empregos diretos no campo. Trabalhando informalmente para o governo do Estado, Bautista disse estar animado com a postura adotada pelo governador Roberto Requião (PMDB) e pelo presidente da Copel, Paulo Pimentel. Segundo ele, o Paraná pode dar um exemplo ao Brasil e posteriormente ao mundo no aproveitamento desses recursos. “Senti uma animação muito grande por parte dos dois. A Copel é de papel fundamental nesse processo”, finalizou.

A civilização dos carboidratos

Em seu livro Brasil ? Civilização Suicida, Bautista Vidal lembra que os combustíveis derivados da biomassa são renovados permanentemente pela captação da radiação solar, graças a fotossíntese dos vegetais. “Essa energia é acumulada sob a forma química nos carboidratos, todos de fácil conversão em combustível com tecnologia que dominamos, a mais avançada em todo mundo”, diz o texto. “A incidência da radiação solar sobre o hemisfério da Terra corresponde por dia à mesma ordem das grandezas das reservas de petróleo. A radiação porém concentra-se nas regiões tropicais… O Brasil é o incomparável continente dos trópicos com mais de 20% de água doce do planeta e com nível tecnológico agroindustrial para ser o grande fornecedor de energia limpa e renovável para a humanidade. Somos por isso predestinados a construir a civilização dos carboidratos, da energia abundante, limpa e renovável, que dependem do sol e da água, abundantes nos trópicos brasileiros.”

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