Verão

Banhistas continuam levando cachorros para a praia apesar de lei proibir

O casal Nilda e Pedro trouxe os cães da argentina, com documentação que comprova o estado de saúde dos pets. Foto: Albari Rosa

Apesar de as placas ao longo dos calçadões de Caiobá e Matinhos serem claras, muita gente insiste em levar os pets para a areia: a regra, registrada na lei municipal nº 1008/2006, deixa explícita a proibição dos cães na área dos banhistas.

O motivo? O risco de doenças transmitidas pelos animais. Mas não só: os bichos também ficam expostos a problemas graves quando em contato com mar, areia e calor (um exemplo é o verme do coração que, se não tratado, podem levar à morte).

A cada poucos metros, há pets de todos os tamanhos e raças dividindo a areia com os humanos no litoral do Paraná. “Ele fica só no meu colo, não deixo ele nem chegar perto do mar”, justifica-se a auxiliar administrativa Luiza Falkowski, 58, enquanto segura Garu nos braços, um yorkshire de quatro anos.

A maioria dos cãezinhos, porém, passa boa parte do tempo correndo pela beira do mar. É o caso de Marti, um vira-lata com mistura de Russel Terrier de quatro anos, e Greta, uma Daschund de 11 meses, dos tutores de argentinos Nilda Velazquez, 50, e Pedro Roa Sauchuk, 44.

Na região em que costumam se banhar, a Prainha de Caiobá, não há nenhuma placa sinalizando a proibição e, por isso, os turistas não veem problemas em deixar os pets à vontade.

Nilda e Pedro garantem que, antes de entrarem no carro rumo ao Brasil, os pets passaram por um check-up rigoroso. “Na Argentina, temos a obrigação de comprovar a saúde dos animais para viajar”, explica ela.

O casal também emitiu a certificação internacional dos cães, documento que funciona como passaporte dos animais e vale por até 90 dias. No Brasil, quem emite o Certificado Veterinário Internacional (CVI) é o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Mas, apesar de todo o cuidado por parte dos tutores, a praia está longe de ser o lugar ideal para os pets. O risco de doenças que podem ocorrer tanto em humanos quanto nos animais são grandes. Veja alguns exemplos:

Nos humanos

Bicho de pé

Basta entrar em contato com a pele dos pés para que a pulga Tunga penetrans se aloje entre os dedos e sob as unhas. O inseto se alimenta da pele humana e segue cada vez mais fundo, formando lesões extensas. O risco é que a ferida cresça, forme uma área de necrose e dê espaço para uma infecção bacteriana, que vai exigir o tratamento com antibióticos.

“A prevenção é cuidar da saúde dos animais, que são os transmissores, e, quando for andar na areia ou no gramado, usar chinelo ou calçados fechados”, explica João Luiz Carneiro, médico clínico geral do hospital VITA.

Os sintomas demoram de dois a três dias para aparecer e se resumem a coceira intensa, inchaço e vermelhidão. O tratamento é feito com pomadas antiparasitárias e a tradicional agulha ou pinça – esterilizada. Dependendo da profundidade da lesão, o bicho de pé pode ser retirado sem ajuda médica. Se for mais profunda, é melhor procurar um especialista.

Bicho geográfico

É uma larva microscópica presente no intestino e nas fezes de cães e gatos. Assim como o bicho de pé, ela penetra na pele e forma uma espécie de caminho avermelhado, gerando bastante coceira e incômodo. A situação tende a melhorar naturalmente entre seis e oito semanas.

“Mas isso é muito tempo para a pessoa sentir o incômodo da coceira e, neste período, o bicho geográfico vai crescendo e caminhando pela pele, o que não é uma sensação boa”, explica o médico.

O tratamento não envolve a retirada da Larva migrans cutânea, mas o uso de pomadas e a crioterapia (aplicação de gelo no local para matar o bicho geográfico).

Nos cachorros

Dilofilariose canina

O Aedes aegypti, mosquito que transmite as doenças dengue e Zika nos humanos, é também um dos transmissores da dirofilariose canina, ou a doença do verme do coração. Quando não tratada, pode levar à morte.

“Nas praias há mais mosquitos e há estudos que indicam as regiões de Guaraqueçaba, Antonina e Morretes como endêmicas da doença. Cães que residem lá ou estão em trânsito, muito comum quando a família desce para passar o fim de semana, podem estar comprometidos”, explica Carolina Scheffel, médica veterinária da clínica Cachorraria.

A partir da picada, o mosquito deposita larvas que, com o tempo, chegam ao átrio direito do coração, comprometendo a passagem de sangue do animal. Por ser uma doença silenciosa, os sintomas (apatia, emagrecimento e alteração respiratória) só aparecem em fase bem avançada, quando o coração está repleto de vermes, segundo a veterinária.

O tratamento com medicamentos dura, inicialmente, 30 dias. A cada quatro meses, os exames devem ser refeitos.

Queimaduras no focinho, orelhas e patas

Os raios UV não afetam só os humanos. Quando expostos por muito tempo no sol, cães podem sofrer queimaduras nas regiões mais sensíveis do corpo, como o focinho, as orelhas e as patas. Por isso, a dica é sempre passar protetor solar específico para cães.

Infecções de ouvido e úlceras nos olhos

Microrganismos presentes na areia podem causar alergias e inflamações na pele dos animais. Já a água do mar pode gerar dor de ouvido e conjuntivite – em alguns casos, até úlceras nos olhos dos pets.