Baloeiro defende: soltar balão é ato inofensivo

Temidos pela população pelo risco de incêndio, os balões têm seus defensores. A atividade de fabricar, vender, transportar ou soltar balões, que é considerada crime conforme a Lei 9.605 de 1998, conhecida como Lei do Meio Ambiente, é vista como hobby pelo baloeiros denominados profissionais.

Para eles, a confecção e soltura é uma arte, que esbarra não apenas na legislação, mas nas ocorrências ocasionadas por aqueles que “brincam” com o artefato de maneira inconseqüente. “O que é feito por nós pode cair em qualquer lugar, mas nunca acesso”, ressalta o auxiliar de departamento pessoal R.G, de 24 anos, que integra uma equipe de 35 baloeiros da capital. Devido às repressões, não são revelados os nomes dele e da equipe.

Segundo R.G, os balões confeccionados por profissionais são baseados em planilhas com cálculos de tempo de vôo e de local estimado para cair. Além disso, enquanto uma metade solta o balão outra chamada de resgate acompanha a trajetória do mesmo. “Procuramos sempre recuperar o balão, pois ele é reaproveitado e pode ser solto mais cinco vezes”, relata. Ele estima que em Curitiba há entre trinta e quarenta equipes de baloeiros, cada uma delas formada por pelo menos dez pessoas.

O risco de incêndio, diz R.G, está nos balões feitos de forma primária, sem técnica ,os chamados de “bicheiras”. São geralmente à base de estopa e querosene. Os profissionais, segundo ele, utilizam buchas feitas de algodão hidrófilo, 20% de parafina e 80% de sebo animal. A confecção de um balão pequeno, de cinco a seis metros, leva cerca de três meses e custa em média R$ 500,00. Já um balão grande, acima de dez metros, pode levar até um ano para ser preparado e chega a custar até R$ 4 mil. Pelo menos umas quinze equipes de resgate vão atrás do balão. No local da queda é feito um sorteio entre as equipes e aquela que ganha, diz ele, também fica responsável pelos prejuízos causados ao longo do percurso, por exemplo, reposição de telhas.

Os balões são soltos em locais retirados, geralmente em municípios da região metropolitana como Quatro Barras e Campina Grande. Já houve casos de balões que, soltos nesses locais, foram parar em Guaratuba. Em média, eles sobem mil metros de altura. Tudo depende da velocidade do vento, mas eles podem ficar até quatro horas no ar.

A Sociedade Amigos do Balão, criada em 1998, no Rio, tem seguidores em Curitiba. Os integrantes querem que o balão junino seja retirado do elenco das práticas delituosas da legislação. Para isso, eles propõem que as equipes interessadas em soltar balões procurem em suas cidades as centrais da sociedade para avisar quando e onde os mesmos serão soltos. Desta forma, a sociedade poderá designar uma equipe técnica de apoio para ajudar no resgate.

Segundo R.G, diferentemente do que as pessoas imaginam, o perfil de um baloeiro profissional não é de um garoto ou maloqueiro. Entre as equipes há médicos, engenheiros – na maior parte, com bom poder aquisitivo. “Na minha equipe todos tem mais de 19 anos”, conta.

Os materiais mais comuns para confecção são: papel de seda, indicado principalmente para balões pequenos; cola branca, barbante rami e arame. Os temas escolhidos são os mais diversos, mas neste ano, predominaram aqueles relacionados à Copa do Mundo. Muito verde e amarelo percorreram o céu da cidade e devem continuam por mais um tempo, devido a conquista do pentacampeonato.

Balão no ar, perigo na terra

Somente no mês passado, o Corpo de Bombeiros registrou dez ocorrências na região de Curitiba ocasionadas por balões. “Balão no céu é perigo na terra”, diz o tenente Renê Ferreira Muchelin, relações públicas do Corpo de Bombeiros. Para ele, não está provado, tecnicamente, que há balões que não causam incêndio. “Essa brincadeira passa a ser um caso sério a partir do momento que causa problemas ao patrimônio e incêndios ambientais”, sentencia.

Segundo o tenente, os incêndios florestais ocorrem principalmente na região da Serra do Mar, nos fins de semana e à noite, horários escolhidos para essa prática. Irredutível quanto aos transtornos causados pelo balões, o tenente Renê faz questão de ressaltar que é uma atividade ilegal, e que as pessoas que forem pegas soltando estes artefatos podem pegar de um a três anos de prisão.

Ele conta que, no mês passado, em São Paulo, um balão causou incêndio num barracão de uma empresa. “Os proprietários estão tendo dificuldades para reconstruir todo o patrimônio e muitas pessoas estão desempregadas por isso”, conta. Embora seja considerada uma arte, para o tenente a soltura de balões significa um custo social irreparável. (JM)

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