E ai, Beto Richa?

Aprovados em concurso de 2012 ainda não foram chamados pelo governo do Paraná

A demora do governo estadual em chamar os soldados aprovados no concurso da Polícia Militar, de 2012, tem complicado a vida de muitos candidatos. Alguns perderam o emprego e outros, até o casamento. A primeira turma (com quase 2,2 mil policiais e mais de 200 bombeiros) foi chamada no fim de 2013 e começou nas ruas na época da Copa do Mundo. Mas a segunda turma – de mais 2.500 candidatos – ainda espera para saber quando entra, sem qualquer previsão. Todos já passaram até pela investigação, última etapa. Falta só iniciar o curso de formação. O concurso está vigente até novembro do ano que vem.

Perder quase tudo é o caso de um candidato, de 28 anos. Ele, assim como os outros que deram entrevista à Tribuna, não quis se identificar, com medo de ser prejudicado. Ele conta que, na época do concurso, estava com a vida relativamente encaminhada. Cresceu na empresa em que trabalhava até assumir a gerência de um dos setores, sem ninguém saber que ele tinha sido aprovado para a polícia. Na hora de fazer os exames de saúde, ele não tinha os R$ 1.300 para pagar os exames, já que, além de estar fazendo faculdade, tinha recém-casado e comprado um carro.

Separação

Diante da promessa do governo, que a segunda turma entraria ainda em novembro de 2014, pediu demissão em junho daquele ano e, com o dinheiro do acerto, pagou os exames, dívidas do casamento e foi sobrevivendo com o que sobrou. Como o governo não cumpriu o que disse, o rapaz teve que vender o carro e outros bens e passou a fazer bicos. A esposa não aguentou a situação e pediu a separação. “Sem contar a falta de moral com as pessoas, principalmente familiares, que ficam perguntando ‘e aí, já virou polícia?’, ou ‘vai entrar pra reserva?’’, relatou.

Salário de aluno

A conversa nos corredores do quartel da PM diz que não haverá novas contratações enquanto as contas da PM não estiverem quitadas. Segundo um oficial, que não quer ser identificado, há várias promoções pendentes. De acordo com um dos candidatos aprovados, existem pendências até entre os soldados chamados na primeira turma. Todos trabalham como soldados há meses, cargo de R$ 3.800, mas muitos ainda recebem como alunos, com soldo de R$ 1.300.

O candidato que aguarda esta segunda turma ainda ouviu, dos futuros colegas, que no Paraná já existem 720 vagas em aberto, de policiais que se aposentaram, pediram licença ou baixa da corporação. Até o fim do ano, especula-se, esse universo pode chegar a três mil aposentados e licenciados. Sem contar o déficit natural de policiais, por conta do crescimento populacional dos últimos anos.

Carreiras abaladas

Outro candidato, também de 28 anos, contou que centenas de aprovados também perderam os empregos, venderam bens para sobreviver e entraram em depressão. Ele explica que, com a crise, muitas empresas precisaram demitir funcionários. “Escolheram, obviamente aqueles que tinham passado em concursos. Afinal, no pensamento dos gestores, estas pessoas já estavam ‘garantidas’. E as empresas ficaram sabendo da aprovação no concurso por causa da investigação social, quando oficiais da PM visitam a residência e o trabalho dos aprovados para saber da conduta deles”, explicou. Os que não foram demitidos, não possuem nenhuma perspectiva de crescimento no emprego.

Responsabilidade

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) informou que esta segunda turma (com quase 2,6 mil candidatos) está com a contratação atrelada à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), dependendo de cronograma financeiro-orçamentário elaborado em conjunto pelas secretarias da Segurança Pública, Fazenda e Administração e Previdência. O órgão não deu prazo para a situação se regularizar.

Porém, o governo autorizou, este mês, concurso para chamar 100 oficiais.

Richa disse que chamada ocorreria até novembro. Foto: Ciciro Back

Desconfiança em novos anúncios

O que os candidatos aprovados reclamam é do governo não ter elaborado cronograma do concurso, dizendo quais eram as datas de cada etapa. “O concurso da Guarda Municipal de Curitiba e o da Polícia Civil de Santa Catarina, por exemplo, tiveram cronogramas. Isso ajuda as pessoas a organizarem suas vidas. Nós não temos previsão nenhuma, só promessas”, reclamou um candidato.

Segundo ele, o governador Beto Richa declarou em entrevista, durante o aniversário da Polícia Militar, no início do mês, que os candidatos devem ser chamados até novembro e começarem o curso de formação entre o fim deste ano e início do ano que vem. “Ninguém está confiando muito na data, pois já deram prazos várias vezes. Ao mesmo tempo que o governador fica postando nas suas redes sociais que as contas do governo já estão no azul, que conseguiu milhões para isto e aquilo, ele fica usando a crise como muleta, para justificar que não nos chamou ainda porque não tem dinheiro. Mas grana a gente sabe que tem. Só o IPVA aumentou 40%, sem contar outras arrecadações. A verdade é que estão segurando a nossa convocação para nos usar como palanque eleitoral. Ano que vem tem eleições”, analisou.

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