Anvisa quer modificar cola de sapateiro

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou na semana passada, no Diário Oficial da União, a Consulta Pública n.º 32, que pretende colher informações e opiniões da sociedade quanto à fabricação, entrega e venda da cola de sapateiro. O órgão quer retirar o solvente contido na fórmula, pois é tóxico e pode causar dependência química quando inalado em grande quantidade e por muito tempo, mesmo que involuntariamente. A substância também está presente em diversos produtos, como esmaltes, colas, tintas, tíners, removedores e corretivos.

Os solventes inaláveis ocupam o segundo lugar na lista de consumo de drogas ilícitas no País, perdendo somente para a maconha. Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, 5,8% das pessoas já usaram esse tipo de droga. A maior incidência ocorre na faixa etária entre os 18 e 24 anos. Nas crianças e adolescentes, 3,4% delas, entre 12 e 17 anos, consomem o solvente. O problema atinge, principalmente, aqueles que vivem nas ruas.

Segundo Jorge Luiz Cavalcanti, técnico da Gerência Saneantes da Anvisa, a substância provoca depressão no sistema nervoso central, causando alucinações. “Nós estamos indo direto na razão do problema, retirando o agente principal”, avalia. “No produto que não é possível retirar o solvente, poderá ser colocado um desnaturante, que gera um odor desagradável. Ele não permite que seja inalado por muito tempo ou de forma propositada”, comenta.

A agência também quer que as embalagens e os rótulos dos produtos apresentem informações e sinais para advertir os consumidores sobre os riscos e que não façam uso da substância. “Isso passa despercebido nos dias de hoje”, explica Cavalcanti.

A funcionária da Casa do Sapateiro, Eliane Rocio Oliva, conta que há quase dez anos houve a tentativa de tirar o tuleno – que, segundo ela, é o causador da dependência – da fórmula da cola. “Diziam que era a cola sem cheiro, mas na verdade, o odor era mais forte em razão de outros produtos químicos. Os sapateiros não gostaram da cola porque não tinha a mesma eficiência”, revela.

Eliane afirma que os sapateiros e as lojas do ramo precisam pedir autorização da Vigilância Sanitária, ligada à Secretaria Municipal da Saúde, para comprar a cola nas indústrias. “Ou eles colocam um carimbo referente à autorização no alvará definitivo do comerciante”, aponta. “O único jeito é continuar fiscalizando”, acredita Eliana.

De acordo com a Anvisa, durante 45 dias a população poderá opinar sobre a cola de sapateiro pelo e-mail saneantes@anvisa.gov.br. Depois de colhidas as informações, a agência vai elaborar um documento final que poderá proibir definitivamente a comercialização do solvente.

Voltar ao topo