Amputados denunciam falta de acesso

A falta de adaptação da arquitetura e de preparação da sociedade estão entre as grandes barreiras enfrentadas pelos amputados e usuários de próteses ortopédicas no Brasil. Essa categoria, presente nas estatísticas que apontam que pelo menos 10% da população mundial têm algum tipo de deficiência, mesmo depois de reabilitada, sente dificuldade para voltar ao mercado de trabalho. Além disso, muitos têm o seu desenvolvimento limitado pelo alto custo das próteses ou peças adaptadas.

O universitário Rodrigo Vinicius Perly – que perdeu uma perna em um acidente de moto – disse que a dificuldade de acesso faz com que ele tenha uma vida social restrita, o que se estende às pessoas que convivem com ele. “Se me convidam para ir a uma festa sem acesso para deficientes, eu acabo não indo, ou meus colegas também desistem de ir”, disse. Ele conta que hoje escolhe os locais que freqüenta não pelo preço, mas pelo grau de acesso. Rodrigo comenta ainda que muitas das vagas para deficientes em locais públicos são ocupadas indevidamente, ou reservadas com um cone. “Se não posso andar, como vou descer do carro para tirar o cone?”, questiona. Ele disse que nos supermercados é comum encontrar carrinhos para deficientes empilhados ou estacionados na vaga especial.

Para Davi Queiroz – que amputou uma perna em conseqüência de um câncer -, muitas vezes as pessoas não percebem ou não têm consciência das limitações dos deficientes: “Mas isso acontece porque elas não estão preparadas para lidar com a situação”. Roberto Ferreira Nunes – que perdeu os dois braços em um acidente de trabalho -comenta que isso é visível no dia-a-dia. Para ir ao banheiro, precisa sempre da ajuda da esposa. Já em lugares públicos, apesar de alguns terem ambientes adaptados, eles não ficam em áreas individuais. “Por isso eu nunca sei se entro com ela no banheiro feminino ou ela comigo no masculino”, contou. Outra dificuldade que ele sente são os aparelhos públicos de telefone, que não possuem viva voz. “Quando estou em casa eu disco com o nariz ou o dedo do pé, nas na rua isso não é possível”, explicou.

Outro problema relatado por eles foi a questão do mercado de trabalho. Hoje as empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a preencher vagas com portadores de deficiência. Mas, segundo Rodrigo Perly, muitas vezes eles colocam muitas exigências difíceis de atingir até por uma pessoa dita “normal”. “Com isso acabam nos impedindo de mostrar que temos capacidade”, falou.

A questão da empregabilidade, diz Davi Queiroz, poderia diminuir a dívida da sociedade com os deficientes. “O portador de deficiência é oneroso para a sociedade, necessita de atenção e dinheiro. Mas se tivermos nossa condição de ir e vir e conquistar nosso sustento, diminuiríamos esse peso, porque somos uma população inerte, que não tem condições de se sustentar”, declarou. Ele disse ainda não ser apenas uma reclamação, “mas uma condição para deixar de ser diferente, para ser um igual”.

Apoio

Todos os meses eles participam de um encontro do grupo de amputados e usuários de próteses. Ele é organizado pela clínica Ortopédica Catarinense, mas é aberto a todos os interessados. Nesse grupo, diz Rodrigo Perly, as pessoas trocam experiências e podem aprender com os outros a se adaptar à nova condição de vida. Roberto Nunes falou que o grupo também é importante para a família, que tem condições de conhecer a forma de viver com um amputado, observando suas limitações e avanços.

O próximo encontro do grupo acontece amanhã. A clínica também está organizando o II Encontro Sul-Brasileiro de Amputados e Usuários de Próteses Ortopédicas, que vai acontecer em outubro, em Florianópolis. Inscrições e informações podem ser feitas pelos telefones (41) 262-6559 ou 362-1988.

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