Aeronáutica e CB tentam resgatar corpos no litoral

Os corpos do presidente nacional do PTB, José Carlos Martinez, dos empresários João Luiz Goebel e André Surugi, e do piloto Cláudio Luiz da Luz, devem ser retirados da Serra do Mar somente hoje. Desde domingo, equipes da Aeronáutica e do Corpo de Bombeiros tentavam retirar os corpos de dentro dos destroços do avião monomotor PT-OTR, que caiu na região no sábado pela manhã.

No início da tarde de ontem, quando o tempo no litoral paranaense melhorou, um helicóptero levou seis militares do Esquadrão Aeroterrestre e Salvamento (Para-Sar) para cima do Morro Rolado. Eles passaram a tarde inteira tentando retirar os corpos da aeronave, que está com sua parte dianteira enterrada. Por volta das 16h, o helicóptero levou mais quatro homens ao morro. Desta vez eram soldados do Corpo de Bombeiros, que levaram consigo mantimentos, ferramentas e um gerador de energia.

Segundo o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica, a intenção era realizar o trabalho de retirada dos corpos do avião ainda durante a madrugada. Todavia, o helicóptero só pode levá-los para a cidade de Guaratuba pela manhã.

Assim que os corpos forem recuperados, serão levados ao Instituto Médico-Legal (IML) de Curitiba. O velório de Martinez será na Assembléia Legislativa, mas devido à demora na retirada do corpo, ainda não há uma hora marcada.

Piloto

O piloto Cláudio Luiz da Luz era natural de Blumenau, Santa Catarina. Tinha 26 anos e era pai de uma menina de 4 anos. Ele concluiu o curso de piloto em Curitiba no ano de 1999. Pouco depois passou a trabalhar para Martinez. “Ele era um exemplo de profissionalismo. Era realmente bom naquilo que fazia”, afirmou Pablo Mazotti, também piloto e amigo de Cláudio.

Ministro diz que houve erros

O acidente que vitimou o presidente nacional do PTB, deputado José Carlos Martinez, 55 anos, casado e pai de quatro filhos, poderia ser evitado, conforme declarou o ministro da Defesa, José Viegas Filho. Segundo ele, o nível de informação a respeito do monomotor de Martinez era mínimo, pois não havia plano de vôo. O ministro disse que espera que o episódio sirva de exemplo, “para que ninguém repita os erros tão freqüentemente cometidos pelos pilotos particulares, de saírem aventureiramente pelo espaço sem plano de vôo e sem qualquer coordenação”.

A declaração do ministro foi contestada pelo irmão do deputado, Flávio Martinez. “O piloto Cláudio Luiz da Luz trabalhava para a família há três anos e era bastante cuidadoso. Há suspeitas de que ele tenha alterado o plano de vôo, mas isso ainda não foi confirmado”, afirmou, lembrando que era a primeira vez que Martinez voava na aeronave, mas o piloto já conhecia o aparelho.

Devido à morte do presidente nacional do PTB, o governador Roberto Requião (PMDB) declarou luto oficial no Estado por três dias. Requião – que inclusive chegou a disputar contra Martinez o segundo turno das eleições para o governo em 1990 -, afirmou que o deputado hoje era uma das figuras políticas mais importantes do Paraná e do Brasil. “Nesses últimos anos o deputado Martinez destacou-se pela sua capacidade de conciliar, de dialogar e de articular”, declarou.

Companheiro nas reformas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota oficial onde ressaltou a colaboração de Martinez na tramitação das reformas tributária e da Previdência no Congresso. “É com grande pesar que recebo a confirmação da morte do presidente do PTB, José Carlos Martinez, um parlamentar que no exercício de suas funções deu importantes contribuições ao nosso País, sendo um expressivo aliado nas reformas em debate no Congresso Nacional, indispensáveis ao Brasil de hoje. Externo os meus mais profundos sentimentos de solidariedade aos familiares e a todo o povo brasileiro, em especial aos paranaenses, neste momento de dor”, diz a nota do presidente. O presidente nacional do PT, José Genoíno, também lamentou o ocorrido. “É uma grande perda para a Câmara dos Deputados, pois ele era um parlamentar experiente, e uma perda para o PT e para o governo”, destacou.

O acidente

O deputado Martinez, acompanhado dos amigos empresários João Luiz Goebel e André Surugi, além do piloto Cláudio Luiz da Luz, partiram no monomotor modelo MT7, prefixo PT-OTR, às 9h23 de sábado do Aeroporto do Bacacheri, em Curitiba. Seu destino era a cidade de Navegantes, em Santa Catarina. O deputado e os empresários pretendiam passar o final de semana pescando na praia de Piçarras. Quinze minutos após, a aeronave perdeu contato com o 2.º Centro integrado de Tráfego Aéreo (Cindacta 2). As buscas começaram com muita dificuldade devido ao mau tempo na região. Somente às 13h40 de domingo o Corpo de Bombeiros encontrou o monomotor caído entre os morros do Agudinho e do Rolado, na localidade de Cachoeira do Rolado, a dez quilômetros de Guaratuba. (LM)

30 dias para investigação das causas

(AG) – Em nota oficial divulgada ontem, o Comando da Aeronáutica diz que o fato de o piloto da aeronave que levava o presidente do PTB, José Carlos Martinez, “ter alterado sua trajetória de vôo, sem serviço de controle radar e sem comunicação rádio, em condições de mau tempo na área, inegavelmente, poderá ter representado uma diminuição dos níveis de segurança do vôo”. Segundo a nota, “em condições meteorológicas adversas, o plano de vôo por instrumentos deveria ser utilizado, conforme prevê a legislação aeronáutica nacional e internacional”.

De acordo com a nota, a aeronave decolou “com plano de vôo visual direto para Navegantes-SC, o que pressupõe a operação com bom tempo, podendo assim visualizar eventuais obstáculos e evitá-los”. Ao afastar-se de Curitiba, o piloto pediu ao controle da Aeronáutica em Curitiba para voar pela costa de Paranaguá para fugir do mau tempo na rota direta para Navegantes. Depois, informou que voaria mais baixo e o controle o alertou que, ao descer de nível de vôo naquela região, sairia da cobertura do radar e de comunicações e por isso ele foi orientado a chamar a torre de controle de Joinville.

A Aeronáutica diz que “a existência de cobertura radar é um fator da mais alta importância para a segurança de vôo, pois permite a localização contínua e precisa da aeronave” e nega qualquer desmentido feito por integrantes do Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta II) ao ministro da Defesa, José Viegas. De acordo com a nota, a investigação do acidente terminará em 30 dias úteis e a única pessoa autorizada a se pronunciar sobre o assunto é o chefe do Cindacta.

Ontem, Viegas disse que as escassas informações sobre o avião eram conseqüência da ausência do plano de vôo do monomotor prefixo PT-OTR. Em Curitiba, no entanto, um dos técnicos do Cindacta que participaram do trabalho de busca garantiu que o comando pediu a checagem dos documentos e que tanto a revisão como o plano de vôo foram feitos.

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