Adauto pede demissão e critica atos de Delazari

O delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Adauto Abreu de Oliveira, surpreendeu toda a cúpula da instituição ao pedir exoneração do cargo ? o mais alto na hierarquia da corporação ? ontem à tarde. Nomeado por Roberto Requião no início do governo, Adauto justificou sua saída alegando não aceitar diversas decisões administrativas tomadas pelo secretário da Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.

“Enquanto o próprio governador esteve respondendo pela secretaria, as promessas que ele fez ao me convidar foram cumpridas: de que a Polícia Civil do Paraná seria reerguida e que eu, como delegado-geral, teria força e independência para levar adiante esse propósito. Depois que o sr. Delazari assumiu, tudo mudou e comecei a sofrer interferências desagradáveis e injustificadas”, explicou, em entrevista à imprensa.

O delegado-chefe da Divisional de Policiamento do Interior, Nabor Sottomayor ? que é candidato a presidente da Associação dos Delegados do Paraná pela chapa Novos Tempos, na eleição que será disputada hoje ?, enviava mensagem extra-oficial a toda a imprensa, via pager, afirmando que o novo delegado-geral seria Jorge Azor Pinto, titular da Delegacia de Crimes contra o Patrimônio Público e também, conforme lembrava Sottomayor na mensagem, “candidato a diretor social na chapa Novos Tempos”.

Este foi outro anúncio que causou espanto, pois nem mesmo Delazari, que ontem estava em Londrina, havia se manifestado ainda a respeito. A própria Assessoria de Comunicação do governo foi pega de surpresa ? os jornalistas que trabalham no Palácio Iguaçu ainda não haviam sido comunicados da decisão.

Somente mais tarde a assessoria do secretário divulgou mensagem oficial em que Delazari declara, sucintamente, que Adauto havia cumprido seu papel como delegado-geral, e confirma Azor no cargo.

Desgaste

Adauto disse que desde a posse de Delazari vem sofrendo desgaste no cargo. Reafirmando sua experiência de 25 anos dentro da instituição, deixou clara a diferença entre suas posições e as do atual secretário ? que, segundo ele, toma decisões “inexplicáveis, sem critério técnico e sem conhecimento do assunto”.

Mas a gota d?água para que decidisse deixar o comando da Polícia Civil, de acordo com ele, foram dois fatos ocorridos nesta semana: Delazari desautorizou uma decisão do Conselho da Polícia Civil, a respeito da remoção de um policial para Londrina ? “coisa que nunca vi acontecer em meus 25 anos de polícia” ? e determinou que policiais civis dos grupos de elite Tigre e Água sejam deslocados para servir às investigações do Ministério Público.

Fantoche”

“Submissão da Polícia Civil ao Ministério Público não existe e isso não posso aceitar”, protestou. “Atualmente há mais de vinte policiais civis trabalhando para promotores do MP, uma situação irregular e inaceitável. Não tenho vocação para fantoche.”

Adauto comentou também que a polícia do Paraná vem trabalhando com diversas carências ? falta de pessoal, de estrutura, armamentos e verbas ? e que tais decisões do secretário de Segurança só pioram a situação. “Enquanto isto somos cobrados pela opinião pública, pelo povo paranaense”, desabafou. “Falta gente aqui no gabinete do delegado-geral, no entanto, há quadros da Polícia Civil servindo no gabinete do secretário.”

Ele também questionou a recente “dança das cadeiras” promovida pela Secretaria de Segurança em cargos de chefia da Polícia Civil e delegacias da capital, interior e divisionais. Deixou claro que as trocas foram feitas de forma amadora e sem o aval dele. “Não entendi porque tirar delegados que estavam trabalhando em determinadas funções, e colocar outros, sem critério nenhum”, observou.

Questionado se sua saída na véspera da eleição na Adepol teria alguma coisa a ver com o pleito, Oliveira comentou apenas que esse foi mais um ponto de desgaste. “Eu, que sou chefe da Polícia Civil, fui deixado de fora do processo, enquanto o secretário, que é promotor, interfere numa eleição interna, que só tem a ver com delegados”, disse.

O ex-delegado-geral encerrou ontem sua carreira como policial civil. Adauto afirmou que vai desfrutar de seis meses de licença especial a que tem direito, e que até o final deste período sua aposentadoria já deverá ter saído. “Vou cuidar de cavalos e cachorros”, finalizou.

Azor promete encarar desafio

Aos 46 anos de idade e depois de já ter passado por várias delegacias da capital, Jorge Azor Pinto deverá assumir, na segunda-feira, o cargo máximo da Polícia Civil. Ontem, ao receber o convite de Delazari, aceitou imediatamente. Estava em Londrina, em um encontro de delegados da região, quando foi surpreendido pelo chamado. “É um grande desafio, mas vamos encará-lo com muita coragem”, afirmou, dizendo-se feliz com a indicação de seu nome.

Quanto à saída de Adauto, Azor não quis fazer comentários. “Não sei o que aconteceu, portanto não quero falar sobre isso”, afirmou. No início da noite Jorge Azor iniciou o retorno para Curitiba e ainda hoje deverá dar entrevista coletiva para falar sobre o futuro da instituição.

Reunião

Durante o fim de semana o novo delegado-geral deverá se reunir com Delazari e outras autoridades da área de segurança para traçar sua gestão. Azor garante que está “afinado” com o secretário e que participa toda semana das reuniões promovidas na secretaria.

Azor era titular da Divisão de Crimes contra o Patrimônio e antes esteve na chefia do 10.º Distrito Policial. Em seus 25 anos de polícia, comandou a Polinter (Polícia Interestadual), passou três vezes pela Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) de Curitiba, duas vezes pela de Furtos e Roubos de Veículos (DFR), e ainda exerceu a função em distritos policiais da capital. Esteve também no comando da Subdivisão Policial de Paranaguá e na vice-direção da Escola Superior de Polícia. Ele também é professor universitário.  (Mara Cornelsen)

Voltar ao topo