O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrou em vigor há um ano e a adaptação, por parte da população brasileira, está sendo rápida. Com a adoção das mudanças nos jornais, revistas, livros e sites, ficou mais fácil perceber a alteração e incorporá-la ao dia a dia.

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Mesmo as correções atingindo apenas 0,5% do vocabulário, existem algumas dificuldades, especialmente com o uso do hífen. A alteração mais assimilada é a do trema. A implantação será obrigatória a partir de janeiro de 2013. Até lá, as duas ortografias vão aparecer na vida do brasileiro.

O Brasil é um dos integrantes da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), juntamente com Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste e São Tome e Príncipe.

O acordo ortográfico será implementado em todos esses países, com o objetivo de unificar o idioma. Mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo falam o Português.

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Todas as alterações podem ser consultadas no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), editado pela Academia Brasileira de Letras. É a publicação que registra a grafia oficial das palavras. Dicionários de diversas editoras são encontrados nas lojas com as correções.

Para o professor Domício Proença Filho, ocupante da cadeira 28 da Academia Brasileira de Letras, a adaptação às novas regras foi mais rápida do que se esperava.

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“A adoção do acordo foi tranquila. A mídia adotou em todos os níveis e as editoras ficaram com um prazo maior. Houve uma ou outra manifestação contrária, pelo não entendimento do espírito do acordo”, avalia.

Deizi Cristina Link, professora de Linguística e Língua Portuguesa do Curso de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que as maiores dificuldades com as mudanças estão relacionadas ao uso do hífen. “Nos demais casos, não percebo dificuldades. A mudança melhor adaptada foi a queda do trema”, comenta.

De acordo com ela, a familiarização com a nova ortografia leva tempo. Para incorporar logo as mudanças, a professora aconselha ler bastante. “Exige um tempo para o cérebro. Quanto mais contato com essa representação, mais vai reter. Quanto menos a pessoa se envolve com a escrita, mais dificuldade ela terá para se adaptar. Nesse momento, conviveremos com as duas ortografias. Quando optar por uma, mantenha a uniformidade”, esclarece Link.

A professora indica que uma nova correção pode aparecer futuramente dentro do acordo ortográfico. Isso porque houve lacunas com as regras apresentadas, principalmente nos casos de formação de palavras.

Proença Filho lembra que a Academia Brasileira de Letras formulou a nova edição do Volp e os especialistas tiveram que lidar com questões que demandaram interpretações.

“Agora, a ideia seria reunir especialistas das instituições ligadas às Letras e tentar um consenso quanto às interpretações”, indica. Uma mobilização para a realização de um encontro com todos os países deve acontecer durante 2010.

Escolas adotam as mudanças mas ainda não as exigem dos alunos

As escolas já adotaram as mudanças vindas com o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. No entanto, como a obrigatoriedade acontecerá apenas em 2013, não está havendo desconto nas notas aos alunos que ainda utilizam a grafia antiga.

“Conforme as dúvidas aparecem nas salas de aula, elas são sanadas pelos professores. Até 2012, os alunos mais adiantados estarão incorporados e os novos já estão sendo escolarizados com a nova regra”, ressalta a técnica pedagógica da equipe de Língua Portuguesa da Secretaria de Estado da Educação, Solange Nascimento.

Segundo ela, os livros didáticos que serão utilizados na rede pública estadual este ano estão atualizados. O mesmo vai acontecer nas escolas particulares, tanto nas que produzem material didático quanto as que usam, livros de outras editoras.

Segundo Jacir Venturi, vice-presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná, os professores passaram por cursos preparatórios e já aplicam as novas regras na sala de aula.

O processo de adaptação foi desgatante para as editoras. “O Ministério da Educação determinou que os livros estivessem em conformidade com o novo acordo antes mesmo de várias coisas estarem esclarecidas. Precisava entregar quando ainda não havia margem de segurança. Foi um processo sofrido. Hoje, 99% dos livros estão corrigidos”, afirma Vitória Rodrigues e Silva, gerente editorial de livros e periódicos da Editora Positivo. Ela lembra que as publicações que ainda estão com a grafia antiga não estão erradas, por causa do limite de 2013.

Na Aymará Edições e Tecnologia, o processo foi facilitado por ser uma editora jovem, com várias publicações ainda sendo produzidas e pouco estoque. “A gente conseguiu fazer a revisão e colocá-las no mercado. Hoje, 100% das obras já estão dentro da nova norma”, frisa Júlio Rocker, diretor editorial da Aymará. A equipe da empresa foi preparada por meio de grupos de estudos. “Também organizamos um livro usado na editora”, declara.