A polêmica do estudante superdotado

ou PUCPR?

A aprovação em dois vestibulares do estudante curitibano Charles Ribeiro, de 15 anos, diagnosticado superdotado por um instituto que lida com alunos especiais, trouxe à tona a polêmica sobre a possibilidade de alguém com capacidade intelectual acima da média entrar mais cedo na universidade. De um lado, a escola acredita que a formação psíquica do garoto ficaria prejudicada; de outro, o instituto que o diagnosticou superdotado vê plenas possibilidade de ele cursar já a universidade.

Charles ficou empolgado com a idéia de ingressar em um dos cursos ele foi aprovado em Ciências da Computação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e em Engenharia da Computação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Nesse último é que ele pretende se matricular. ?Me sinto plenamente preparado para cursar a universidade; pelo menos quanto ao aspecto do conteúdo, eu acredito que consigo freqüentar as aulas, sim?, diz o garoto.

Mas a polêmica em que a história está envolta parece longe de terminar. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), fica estabelecido que cabe à escola decidir sobre acelerar a formação do aluno, adiantando a série ou conclusão do grau, ou fornecer currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específicos para atender às necessidades desses alunos.

Foto: Fábio Alexandre

Charles durante trote da UFPR.

A escola onde Charles estuda como bolsista pelo programa Bom Aluno, o Bom Jesus, prefere ficar com a segunda opção, justificando não achar adequado tomar a medida que permitiria ao garoto antecipar a conclusão do ensino médio. ?A aprendizagem não se dá apenas pelo conteúdo, mas pelo convívio escolar. É importante que ele adquira maturidade emocional e psicológica, daí nossa preocupação que ele pule esta etapa?, explica o gestor do ensino médio do colégio, Julio Imafuco.

O professor enfatiza que o vestibular não pode ser visto como um ?laudo de superdotação? ou de ?medição de inteligência? e garante que Charles, embora diagnosticado superdotado por um instituto credenciado pelo Conselho Regional de Psicologia, possui capacidade intelectual semelhante à de outros alunos da escola. ?O Charles foi bem sucedido também pela sua grande competência. Não é exclusividade dele ter passado no vestibular sem ter completado o ensino médio. Não queremos menosprezar o resultado do jovem, mas a gente quer que isso seja encarado com responsabilidade.? E acrescenta: ?Nosso colégio reconhece no Charles e em outros alunos do programa a superdotação. Mesmo os que não têm o laudo, são ótimos?, conclui o professor.

Laudo garantiria matrícula

Foto: Chuniti Kawamura

A Psicóloga Maria Lucia Sabatella atesta que garoto é altamente superdotado.

A psicóloga que diagnosticou o garoto, Maria Lucia Sabatella, atesta que Charles é altamente superdotado e diferente dos demais alunos que compõem a turma. Além disso, garante que, com o laudo, ele tem possibilidades legais de conseguir acelerar a conclusão do ensino médio – o que não vale para pessoas não classificadas como tal, ainda que aprovadas no vestibular antes do tempo.

Quando chegou ao consultório do Instituto para Otimização da Aprendizagem (Inodap), em Curitiba, Charles tinha 13 anos e uma inteligência notável. Advindo de escola pública, o garoto procedeu a testes e superou a pontuação máxima na maior parte das oito áreas do conhecimento avaliadas para este tipo de diagnóstico. Nesta época, quando ainda cursava a oitava série, o garoto já ensinava física quântica aos colegas.

Somente o teste de QI (quociente de inteligência) do adolescente deu um resultado de 152 pontos, quando a média da população é de 90 a 110 (acima de 130, já se considera superdotado). ?Não havia testes para a idade dele que correspondessem à sua capacidade intelectual?, lembra Maria Lucia, que atua como delegada do Brasil no World Council for Gifted and Talented Children, ou Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas.

A possibilidade de pular etapas, para a psicóloga, está descartada. ?Se ele estiver ajustado no nível escolar, de conhecimento e social, o que não acontece hoje, será muito mais fácil trabalhar apenas o ajuste emocional. Caso contrário, teremos de trabalhar todos esses aspectos.? Maria Lucia também não vê na idade problema para escolher a profissão. ?Ele sempre pendeu para a área de Exatas. Além disso, os superdotados em geral seguem diversas carreiras com diferentes formações, não porque escolheram errado, mas porque a competência é muito ampla.?

Há diversos exemplos de adolescentes que passaram pela mesma situação, como na Universidade de Brasília, que já recebeu alunos de 15 anos; no Rio de Janeiro, onde a universidade federal já contou com um calouro de 14 anos; e no México, onde no ano passado um garoto de 12 anos entrou para a faculdade de Medicina. ?Nunca vi sentenças desfavoráveis a estes alunos e também não conheço relatos de arrependimento.? (LM)

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