75% dos acidentes em rodovias seriam evitáveis

Hoje é o dia do motorista, mas pouco se tem para comemorar. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), só no primeiro semestre deste ano foram registrados 4.288 acidentes nas estradas federais do Paraná – 6,4% a mais do que no mesmo período do ano passado. As estatísticas revelam ainda que 75% deles são causados por falhas humanas – ou seja, 3.216 poderiam ter sido evitados. A falta de atenção e a imprudência são os principais problemas.

Nos acidentes que ocorreram nas rodovias federais este ano, 2.544 pessoas ficaram feridas e 172 perderam a vida. O mais surpreendente é que são os próprios condutores os maiores responsáveis por esta estatística. O chefe de operações da PRF, inspetor Gilson Luiz Cortiano, explica que a falta de atenção e a imprudência lideram a lista de fatores que agravam a situação: “Os motoristas precisam aprender a dirigir defensivamente. Observando o comportamento dos outros motoristas e trafegando de acordo com as condições da pista e do clima”, recomenda.

O segundo lugar entre as causas de acidentes é o excesso de velocidade: “A pessoa tem um bom carro e acha que tem controle total do veículo. Mas numa curva, a pista está molhada e ele perde o controle. Mata a família dos outros ou a dela mesma”, exemplifica Cortiano. Ele afirma ainda que as pessoas reclamam dos radares instalados na cidade, mas eles conseguiram reduzir significativamente o número de acidentes em alguns pontos. Só no trecho urbano da BR-277, entre Curitiba e Paranaguá, o índice de atropelamentos baixou 70%. “Agora a gente vê as pessoas rodando numa velocidade padrão, obedecendo a legislação. Infelizmente só com atitudes repressivas, mexendo no bolso, para que as coisas funcionem”, observa.

O inspetor conta que a PRF está promovendo atividades educativas junto às escolas, para que os futuros motoristas sejam mais conscientes. Ele reconhece porém que já melhorou um pouco o nível de conscientização de quem trafega hoje pelas estradas.

O terceiro posto entre as maiores causas de acidentes é ocupado pelas ultrapassagens perigosas, e em quarto, o desrespeito à sinalização. Só em quinto lugar está o álcool. Mas Cortiano destaca que nesses casos os acidentes são mais graves e geralmente há vítimas fatais. Estatísticas mostram que a combinação bebida e direção respondem por 50% das mortes no Brasil, superando a média mundial, que tem o álcool como responsável por 30 a 40% dos acidentes de trânsito.

Nem o Código de Trânsito Brasileiro, que é rigoroso com este tipo de infração, consegue acabar com o problema. Ele prevê multa, suspensão do direito de dirigir, retenção do veículo e recolhimento de habilitação. “A sociedade precisa se conscientizar e colaborar. Senão milhares de vidas vão continuar sendo perdidas”, reforça Cortiano.

Comprovação

A legislação também prevê que o consumo de álcool seja comprovado por meio de um teste em caso de acidentes. Mas isso nem sempre ocorre, porque dependendo do estado das vítimas elas precisam ser encaminhadas rapidamente para o hospital. Dados do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran) de Curitiba mostram que em 127 de 13.223 acidentes ocorridos este ano foi comprovada a embriaguez do motorista. “Mas os dados são irreais e devem ser bem maiores, já que a prioridade é o atendimento médico”, comenta a chefe do Centro de Instrução, Atualização e Pesquisa do BPTran, Débora Cristina Scremin.

Motoristas abusam também na cidade

Nas ruas de Curitiba a situação é semelhante à encontrada nas estradas. A imprudência, traduzida pelo excesso de velocidade, desrespeito à sinalização e a ingestão de álcool são os maiores problemas. Mais de 70% dos casos ocorrem em cruzamentos com semáforos e em áreas bem sinalizadas. “As pessoas acham que podem atravessar a cidade em cinco minutos como ocorria há 30 anos. Hoje a realidade é diferente. Precisam sair mais cedo de casa e procurar caminhos alternativos”, sugere.

O número de acidentes também é alto na área urbana da capital. No primeiro semestre deste ano, o BPTran atendeu no local a 9.941 casos, mas foi registrado 5.030 queixas de pequenas batidas no próprio batalhão, o que totaliza 14.971 acidentes. Resultaram dessas ocorrências 4.568 feridos e 42 óbitos.

A quantidade de veículos que rodam na cidade também colabora para elevar os números: existem hoje 800 mil carros em Curitiba. Mas, somando os da Região Metropolitana, calcula-se que rodam na capital 1,5 milhão de veículos. Só do ano passado para cá a frota aumentou em 30 mil automóveis.

Os acidentes mais graves ocorrem geralmente nos bairros da cidade. Os motoristas trafegam em maior velocidade e ficam mais relaxados por estar perto de casa. Geralmente eles envolvem pessoas na faixa dos 18 aos 30 anos e boa parte ocorre nas madrugadas de sexta-feira e sábado, devido à ingestão de álcool. Por isso a PRF o BPTran têm intensificado o trabalho junto às escolas, na formação dos futuros condutores.

Defeitos

Depois da falha humana, são os problemas no veículo que respondem pelas colisões, numa proporção que atinge 12%. Este número poderia ainda ser contabilizado por falha humana, já que é o motorista o responsável pela manutenção do veículo. Neste caso, o índice de acidentes poderia ser ainda menor. Já 6% dos acidentes são causados por deficiências nas pistas e 7% por causas diversas. (EW)

Mais motos, maiores riscos

Os dados do Detran quanto à frota de motocicletas existente em Curitiba somada aos números do relatório do Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), que registra a ocorrência de acidentes envolvendo motociclistas, são motivo de preocupação para a Diretran.

A frota registrada pelo órgão estadual de trânsito revela que de 1998 a 2003 houve um crescimento de 34,5% na frota de motocicletas e motonetas em Curitiba, passando de 45.153 em 1998 para 60.737 em 2003. O crescimento é maior do que o da frota total (incluindo veículos, ônibus, caminhões), que no mesmo período aumentou 21%.

Em relação ao número de acidentes envolvendo motocicletas, as estatísticas do BPTran (Batalhão de Polícia de Trânsito) revelam que no ano passado as motocicletas, ciclomotores e motonetas se envolveram em 12,35% dos acidentes do capital.

“Nesta semana em que é comemorado o Dia do Motorista, lembramos que os riscos de acidentes existem para todos que estão no trânsito, mas os dados relacionados aos que conduzem motocicletas revelam que este é um grupo que merece especial atenção. Todos devem ter consciência da gravidade das conseqüências dos acidentes que envolvem motocicletas. A convivência pacífica entre motociclistas e motoristas em geral exige tolerância entre todos”, defende o diretor da Diretran, Carlos Alexandre Negrini Bettes, ao lembrar que o uso da motocicleta é cada vez maior em Curitiba.

O comportamento dos motociclistas e dos motoristas em geral faz parte de uma das ações desenvolvidas pelo Núcleo de Educação e Cidadania da Diretran. Uma das campanhas direcionadas a este grupo de condutores, a campanha Fique Vivo, chegou a ser premiada este ano pelo Ministério da Saúde, e foi considerada experiência de êxito em segurança no trânsito. A campanha fez parte do Programa de Saúde, Educação e Segurança do Motociclista da Diretran e das ações do Programa Vida Saudável, coordenado pela Secretaria Municipal da Saúde.

Entre as ações do Programa do Motociclista estão a orientação permanente feita pelos agentes municipais de trânsito. Nas blitze educativas os agentes orientam os motociclistas sobre os cuidados indispensáveis à segurança.

Reflexão

A campanha, realizada em 2001, estimulou reflexão entre motoristas, motociclistas e pedestres sobre o comportamento de cada um no trânsito, e levou informações sobre a necessidade de convivência pacífica entre motos e carros.

A campanha abordou ainda as infrações de trânsito, acidentes e problemas de saúde provocados por acidentes ou como conseqüência da exposição do motociclista ao clima frio e úmido de Curitiba -como acontece com os motoboys que atuam na cidade.

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