Para pesquisadora, autores de chacina voltarão a agir

São Paulo, 23 (AE) – Os assassinos de moradores de rua voltarão a agir. Podem mudar de área e perfil de vítima, mas matam por ideologia e acham que estão livrando o mundo de algo que não presta. Mas, em vez de serial killers, que assassinam uma vítima de cada vez, nesse caso os agressores fazem parte de um grupo racista, extremamente organizado, que mapeou o centro da cidade antes de atacar, escolheu arma que não faz barulho e é formado por covardes que atacam indefesos. É o que alerta a pesquisadora de crimes violentos Ilana Casoy.

Integrante do Núcleo Forense da Psiquiatria do Hospital das Clínicas e autora do livro Serial Killers Made in Brasil, ela explica que esses grupos geralmente têm um líder, que ganham o apoio dos demais por coerção, intimidação ou manipulação e persuasão. São um entre vários que existem por aí, mas o perigoso é que passaram da ideologia à realidade. “Uma coisa é fantasiar, passar anos falando que mendigos são escória da sociedade, outra é começar a matar. E, mesmo que parem neste momento, devem voltar.” Para ela, no entanto, todas as linhas devem ser investigadas. Um comerciante do centro, por exemplo, pode pertencer a um desses grupos.

O psiquiatra Paulo César Sampaio também acredita na ação de um grupo preconceituoso que desconhece nos moradores de rua seres humanos iguais a eles e se acredita com direito de vida e morte sobre aqueles que considera inferiores.

Para Sampaio, ao contrário dos psicóticos, esses assassinos são lúcidos, conscientes e sabem que estão cometendo crimes, tanto que atacam à noite e não deixam rastros. E sentem prazer. “Estender madeira contra a cabeça de alguém e dar para matar é coisa fria, que se faz por prazer, por brincadeira.”

“Em psiquiatria, não existe nunca nem sempre, mas não me parece um caso estritamente psiquiátrico”, diz Carlos Eduardo Garcia, diretor de perícia do Hospital de Custódia de Franco da Rocha. “Deve ser algum grupo frustrado em termos de situação pessoal, mas que se identifica de alguma forma com alguma ideologia, a exemplo das torcidas organizadas e grupos neonazistas.”

Limpeza – “Deve ser ação dirigida e motivada por preconceito, racismo e uma espécie de ódio, com traços de limpeza social, de limpar a rua dos pobres que enfeiam a cidade” diz a diretora-executiva do Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud), Karyna Sposato.

Guaracy Mingardi, diretor-científico do Ilanud, acrescenta que, pelas características dos crimes, os agressores são indiscutivelmente desequilibrados. “E quando se trata de crimes feitos por loucos assim, a polícia fica perdida. O maníaco do parque só foi encontrado porque dava cartões para vítimas.”

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