Para montar ministério, Lula teve de fazer concessões

Na montagem de seu ministério, Luiz Inácio Lula da Silva teve de fazer concessões e escolhas que, muitas vezes, não foram sua primeira opção. Além do caso clássico do futuro presidente do Banco Central, Henrique Meirelles – indicado quase em cima da hora para ser sabatinado pelo Senado -, Lula enfrenta dificuldades para nomear, por exemplo, os titulares de Transportes e Saúde.

O presidente eleito queria pôr o cardiologista Adib Jatene na Saúde, mas não conseguiu. Ex-ministro da Saúde no governo de Fernando Collor, Jatene chegou até a se animar com a sondagem. Mas desistiu depois de saber que não teria autonomia total para indicar o segundo escalão da equipe. Até agora, o cargo está em aberto. São cotados os petistas Humberto Costa, candidato derrotado ao governo de Pernambuco, e Eduardo Jorge, secretário de Saúde licenciado da Prefeitura de São Paulo. Mas o cargo ainda está em disputa pelos aliados.

O primeiro nome que Lula pensou para o Ministério dos Transportes foi o do governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra (PT). Logo viu, porém, que se tratava de outra pasta cobiçada pelos partidos, em troca de apoio ao governo do PT no Congresso. O PMDB reivindicou o cargo. Os petistas resistem porque o partido de Michel Temer enfrentou um turbilhão de denúncias no controle da máquina desse ministério.

O único peemedebista que Lula gostaria de ter nos Transportes seria o senador Pedro Simon (RS). Do chamado grupo autêntico do PMDB, Simon é amigo do presidente eleito e de várias estrelas petistas. O senador, porém, foi vetado pela cúpula de seu próprio partido. A vaga ainda está em aberto e seu preenchimento depende das negociações. Com todo o ajuste a ser feito, o mais provável é que Olívio fique, agora, com a presidência da Itaipu Binacional.

?Fechar um ministério é como um jogo de xadrez?, compara o futuro ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho. ?Sei porque já fui prefeito: às vezes, você pensa numa pessoa para determinada área, mas aí precisa encaixar outro companheiro e tem de mover todas as peças.?

Foi o que ocorreu, por exemplo, na montagem da articulação política do novo governo. Inicialmente, Lula queria que o deputado José Genoino (SP) comandasse a nova Secretaria Nacional de Segurança Pública. A notícia ?vazou? e Genoino reagiu. Disse que não queria ?cargo de compensação? no governo. O presidente eleito também planejou pôr Genoino na Secretaria-Geral da Presidência, para fazer ?dobradinha? com José Dirceu, futuro chefe da Casa Civil, na articulação política com o Congresso.

Ajustes

O plano não deu certo porque Dirceu não quer dividir poder. Ele nega. ?Ninguém mais do que eu queria o Genoino no governo?, tem dito o deputado nas reuniões do PT. Para a Secretaria-Geral da Presidência, Lula chamou, então, o mineiro Luiz Dulci, um aliado de Dirceu. Outra mudança: Dulci era o nome que Lula pensava em encaixar na presidência do PT depois da saída de Dirceu, mas, com a reviravolta, o comando do partido acabou ficando com Genoino. Nesse jogo, a nova Secretaria da Segurança deverá ser entregue a Luiz Eduardo Soares, que hoje está na equipe de transição.

No Banco Central, Henrique Meirelles era uma das últimas opções do presidente eleito. Antes dele foram sondados Fábio Barbosa, do ABN-Amro; Pedro Bodin, do Banco Icatu; Murilo Portugal, representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI); José Júlio Senna, da MCM Consultoria; e Jair Ribeiro, ex-JP Morgan.

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