Países acompanham atentos decisão da OMC sobre pneus

O contencioso da Organização Mundial do Comércio (OMC), que discute as restrições do Brasil à importação de pneus reformados, está atraíndo a atenção de países do mundo todo. Doze países se inscreveram como terceiras partes na controvérsia. O interesse se deve ao fato de que durante as discussões sobre o caso estão sendo abordados temas delicados para o comércio multilateral: a relação entre comércio e meio ambiente, a relação entre regionalismo e multilateralismo e a relação entre bens usados e remanufaturados e bens novos.

A primeira audiência do painel ocorreu entre 5 e 7 de julho e a segunda está prevista para 4 de setembro. O Brasil está sendo representado no processo por uma delegação que inclui integrantes dos ministérios de Relações Exteriores, do Meio Ambiente, da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior e da Saúde, além do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O caso brasileiro pode desencadear um efeito sistêmico sobre o comércio multilateral, na avaliação de especialistas. Se o Brasil vencer na disputa da OMC, outros países poderão manter medidas jurídicas e políticas públicas semelhantes de proteção ao meio ambiente. ?No caso de o Brasil perder, haverá um retrocesso na legislação ambiental do país. E a derrota não será só brasileira. Países em desenvolvimento que desejam restringir a entrada de resíduos em seus territórios também serão atingidos. A liberação da importação de pneus é uma forma elegante de se falar em abertura à importação de resíduos. Se isso acontecer, num futuro próximo, poderemos estar importando computadores usados?, avalia a gerente do Projeto de Redução de Riscos Ambientais do Ministério do Meio Ambiente, Maria Gricia de Lourdes Grossi, que participa da delegação brasileira.

Na OMC, as CE acusam o Brasil de adotar uma medida protecionista, de caráter estritamente comercial, ao proibir as importações de pneus reformados. O governo brasileiro rejeita a acusação e em sua defesa alega que as restrições foram adotadas como medidas de caráter ambiental e de saúde pública, exclusivamente. Em 8 de novembro, Brasil e CE recebem o relatório provisório do painel, com a decisão. Esse relatório ainda é sigiloso. Nessa etapa, as duas partes podem apresentar pedido de revisão do processo, mas não do mérito do caso. Em 01 de dezembro, acontece mais uma audiência do painel para analisar a revisão processual. O relatório final circula para todos os Membros da OMC no dia 15 de janeiro do próximo ano. A partir daí, inicia a contagem de um prazo de aproximadamente 60 dias para a apelação das CE, do Brasil ou de ambos.

As restrições do Brasil não se referem apenas à importação de pneus reformados, mas também à importação de pneus usados. O objetivo é reduzir o volume de resíduos e fazer com que a indústria reformadora brasileira utilize pneus consumidos no Brasil. No entanto, como as carcaças estrangeiras são significativamente mais baratas, os reformadores brasileiros as preferem e tentam na Justiça meios de driblar a proibição à importações de pneus.

Num país de dimensões continentais como o Brasil, é mais fácil pegar carcaças importadas no porto do que coletar pneus velhos de norte a sul do país. Há interesses comerciais, portanto, que movem a discussão da chamada Agenda Marrom – agenda sobre resíduos. As carcaças européias são mais baratas também porque, nas CE, elas não têm valor. ?As carcaças são um ônus nas CE e não um ativo e, tipicamente, deve-se pagar para se ver livre delas?, diz um trecho da Sustentação Oral Final apresentada pelo governo brasileiro na primeira audiência do painel da OMC.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo
O conteúdo do comentário é de responsabilidade do autor da mensagem. Ao comentar na Tribuna você aceita automaticamente as Política de Privacidade e Termos de Uso da Tribuna e da Plataforma Facebook. Os usuários também podem denunciar comentários que desrespeitem os termos de uso usando as ferramentas da plataforma Facebook.