Overdose de “realidade”

Os reality shows continuam proliferando como uma verdadeira praga que assola a televisão brasileira. Agora surgiu um que mistura ficção e realidade. Os competidores são desafiados a elucidar um crime fictício, encenado por atores ruins (ou mal dirigidos). Dois participantes, um deles indicado pelo líder e o outro eleito pelo restante do grupo, escolhem dois caminhos para seguir no final do programa. Um deles retorna com mais uma pista. O outro tem seu encontro com o “assassino” e é eliminado do jogo. Original, né?

Segundo a escritora e blogueira Daniela Abade, criadora do hilário site Mundo Perfeito (http://mundoperfeito.terra.com.br/), nem mesmo a idéia de “matar” os participantes é nova. O Mundo Perfeito ? onde todas as notícias são fictícias, porque se fossem verdade o mundo real seria perfeito ? acusa a TV Globo de plágio, pois há quase dois anos o site anunciou o lançamento do No Limite 4, no qual os participantes seriam eliminados com tacos de beisebol.

Mas há quem já esteja acostumado e até resignado com a idéia de que os reality shows vieram para ficar. Há até quem veja o lado positivo dessas atrações e apele à criatividade para tirar proveito delas. Não faltaram sugestões de substituição do horário eleitoral e dos debates políticos por um programa que mostrasse os candidatos trancados em uma casa durante dois meses. Dizem que seria a melhor maneira de conhecer os postulantes a cargos públicos…

Mas a “realidade” exposta às câmeras de TV não é tão real assim. Conscientes de que estão sendo observados constantemente por olhos eletrônicos, os participantes não se comportam com a mesma naturalidade que fariam se não pudessem ser vistos.

É por isso que os melhores reality shows são os mais despretensiosos, como os da MTV ou a Casa dos Artistas, do SBT. Os Osbournes, que mostra a vida da família de Ozzy, é tragicômico. Ao mostrar a decadência e senilidade do cantor que comia morcegos vivos no palco e que acabou virando um caretésimo pai de família, o programa produzido pela MTV dos EUA é cruel e engraçado.

Inspirada no sucesso do programa importado da matriz americana, a MTV Brasil aposta no astro punk João Gordo como estrela de seu primeiro reality show brazuca. Diferentemente de Ozzy, que teve grande parte dos neurônios destruída por todo tipo de droga lícita e ilícita, João não vai causar pena nem despertar o lado sádico dos telespectadores. A despeito de seus problemas de saúde, o vocalista da banda Ratos de Porão vem mostrando que tem muita lucidez, inteligência e jogo de cintura, pelo que se vê em seu talk-show semanal na mesma MTV. No entanto é difícil prever se ele vai ou não se adaptar bem a uma fórmula tão desgastada. Mesmo porque João já adiantou que vai estabelecer limites para essa invasão de privacidade.

Ari Silveira

(cidades@parana-online.com.br) é chefe de Reportagem de O Estado

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