Outras torres

Não faz um ano o mundo acompanhou, como a um inusitado espetáculo, a explosão do World Trade Center de Nova York, um dos símbolos do império capitalista norte-americano. Caíam as torres gêmeas vítimas de ataques terroristas comandados por Osama Bin Laden e, com elas, despencavam também as cotações nas bolsas de valores. Foi uma catástrofe espetacular, com desdobramentos – do turismo aos negócios aéreos e todos os demais – inesperados na economia global. Um golpe do gênio do mal a desencadear outros e desconhecidos males ao redor do mundo.

Estrago maior que aquele, igualmente em todos os ramos dos negócios mundiais, está acontecendo agora, quando outras torres – igualmente símbolos do capitalismo – caem, vítimas do terrorismo contábil e da ganância inescrupulosa de executivos malformados. O abalo do primeiro golpe foi de grande prejuízo material. O abalo desse segundo golpe ainda não de todo assimilado, além de estragos materiais tem como marca o enorme prejuízo moral e atinge megaempresas da economia globalizada, como a Enron e a WorldCom (esta tão próxima de nós, já que controla a Embratel). Gigantescas fraudes contábeis, quais boeings suicidas, transformaram prejuízos acumulados em falsos lucros, arruinando aposentados, quebrando bancos e afastando investidores de um país até aqui considerado acima dos riscos que afrontam e afligem a comunidade internacional, principalmente os países em desenvolvimento.

É uma amarga lição, que a todos preocupa pelos seus desdobramentos inevitáveis no mundo cada vez mais sensível à ação das especulações financeiras em detrimento daquela advinda do trabalho produtivo que, conforme aprendemos, enobrece o homem. No caso, a nobreza já sucumbiu diante da esperteza. E, guardadas as devidas proporções, faz um pouco de justiça a tudo aquilo que, por outros caminhos, é cometido contra os mercados emergentes por palpiteiros de plantão que medem riscos e ditam desconfianças ao sabor de informações que emergem de seus próprios botões. É como se o feitiço, de um só golpe, se voltasse todo contra o feiticeiro, sem chance de contra-remédio. Em alguma caverna Bin Laden deve estar rindo à toa e dando graças a Alá.

Infelizmente, o mundo não pode gargalhar como gostaria, já que todos estão atrelados aos palpites e à credibilidade (ou à falta dela) dos poderosos de plantão. O exemplo está bem à vista: o governo Bush, embora todo o esforço que tenha demonstrado, não consegue evitar que as torres continuem caindo à sua volta, pois tornou-se notório em seu passado que a cada dia menos limpo aparece aos olhos do mundo.

O nervosismo das finanças internacionais que se alimenta e robustece nessa crise de confiança é outra dura lição a ser aprendida. E tem significado todo especial neste momento particular que o Brasil atravessa, com os debates que precedem a escolha de um novo governante. No ordenamento econômico em que vivemos, não bastam promessas, boas intenções ou obras ciclópicas. A credibilidade já conta mais que a contabilidade.

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