Os bancos e a qualidade do trabalho

Há poucos dias, estive em uma agência bancária por volta das 15h, no Centro de Curitiba. Logo na entrada, me deparei com uma fila para operar os caixas eletrônicos e, no andar de cima, onde ficavam os funcionários-caixas, encontrei outro aglomerado de clientes em uma fila cujo tempo médio de espera passava de uma hora. No desconforto de uma escada, por terem preferência de atendimento (sic), aposentados e idosos aguardavam em separado.

No comando da agência, a gerente estava visivelmente estressada e até aquela hora ainda não havia almoçado; privilégio não concedido ao restante do pessoal, que habitualmente trabalha além da jornada legal de seis horas, e dispõe de quinze minutos “para comer qualquer coisa”. Quando pensava estar diante do caos, soube que, no mesmo dia, a polícia havia sido chamada para controlar um tumulto em outra agência do mesmo banco, devido à demora do atendimento, em torno de duas horas.

Esse cenário que descrevi é apenas um flagrante da rotina dos serviços bancários que são oferecidos à clientela comum. Isso porque, via de regra, pessoas com renda alta e empresas têm o privilégio de serem atendidos em agências e guichês especiais. Os demais clientes, sem privilégios, vão para as agências normais.

Convém ressaltar que entre a clientela comum – apartada pela capacidade financeira que comprova – estão os que podemos chamar de clientes institucionais; aqueles que recebem suas remunerações nos bancos designados pelos patrões (governo e empresas). Ou seja, sem opção de escolha e obrigados a se sujeitar à qualidade de atendimento e às tarifas bancárias impostas. Além disso, como os bancos constantemente impõem metas aos seus funcionários, esses se vêem forçados a oferecer produtos aos clientes, que os compram sem a efetiva necessidade ou para aumentar o limite do cheque. Muitas vezes, se tratam de operações casadas, que desrespeitam o Código do Consumidor, código esse que os bancos tanto relutam em aceitar.

A visita àquela agência também confirmou informações obtidas em relação às agências privatizadas do Banestado sobre a queda da qualidade do emprego e o desprezo à política de recursos humanos. Mesmo que haja uma tendência, atribuída à globalização, de se trabalhar sob pressão constante em busca de resultados, penso que no caso da privatização do Banestado, no qual o número de demissões já atingiu cinco mil trabalhadores, devem ser discutidas as condições de trabalho e principalmente as questões éticas. Afinal, não há explicações que justifiquem algumas medidas que sendo adotadas, como transferir o funcionário para uma cidade do interior, e quando lá instalado, inclusive com os filhos matriculados na escola local, demiti-lo; ou ainda convidar o empregado para não aderir ao plano de demissão voluntária e, logo após, consumar a demissão. Enfim, exemplos de desrespeito à ética, ao profissional e ao ser humano.

Vale ressaltar que a dispensa de funcionários, uma constante há um ano e meio, tem deixado famílias em permanente insegurança e em alerta sobre uma possível demissão. Aliás, sobre a demissão em massa, se levanta uma questão muito séria relacionada ao aporte de recursos (no caso do banco) para cobrir o déficit da reserva matemática do fundo de pensão. Acontece que o empregado, após participar dez, vinte ou mais anos do fundo de pensão, constitui um patrimônio, e, quando demitido, deixa dois terços desse valor, pois não tem condições de usufruir da portabilidade (transferir sua poupança para outro plano) nem pode continuar no fundo, na condição de contribuinte Ou seja, uma demissão em grande escala traria grandes vantagens financeiras ao empregador nessas circunstâncias. Para o banco, tal vantagem representa centenas de milhões de reais, mas sobre essa questão pretendo voltar em um artigo específico.

Por ora, é incontestável que os bancos brasileiros precisam passar por uma avaliação profunda do ambiente de trabalho e das práticas e políticas de recursos humanos. Não é coincidência que entre as 100 melhores empresas para trabalhar no País, apontadas em uma pesquisa pela Revista Exame, apenas um dos cinco maiores bancos entrou na lista pela qualidade do emprego. É muito pouco se compararmos com o volume de clientes e os recursos humanos mobilizados. Também cabe ao Banco Central, uma atitude mais firme em função do número de reclamações que o mesmo vem registrando.

Reinhold Stephanes

é ex-ministro da Previdência e ex-presidente do Banestado.

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