Os abusos do pedágio

Demorou, mas o governador Roberto Requião acaba de anunciar que uma de suas mais incisivas promessas de campanha será, enfim, cumprida: o pedágio baixa ou acaba. A solução para um problema que preocupa a todos os transeuntes pagantes, mas muito mais ao setor de transportes que já escoa a supersafra de grãos colhidos do solo paranaense, é anunciada para os próximos dias. Não se tem idéia de qual seria a solução encontrada pelo governo que, ao mesmo tempo, pensa numa operação tapa-buracos para aliviar o drama da parte de nossa economia dependente das estradas.

Segundo levantamento do secretário dos Transportes, Waldyr Pugliesi, o Paraná tem 3,5 mil quilômetros de estradas federais – 1.860 quilômetros dos quais pedagiados. Dos 1.640 quilômetros restantes, 600 quilômetros estão em péssimo estado de conservação – “uma dura realidade” que vem se somar aos também sucateados quatro mil quilômetros de estradas estaduais, cuja recuperação está orçada em cerca de um bilhão de reais.

Um dado comparativo dá idéia da pouca importância que o setor viário obteve do governo anterior. Segundo o secretário Pugliesi, pelo menos metade das estradas paranaenses encontra-se em situação classificada entre ruim e péssima.

No primeiro mandato de Requião, iniciado em 1991, esta situação dizia respeito a 33% das estradas paranaenses. Nos dois governos, Jaime Lerner assumiu algumas responsabilidades federais e entregou à iniciativa privada os trechos de maior movimento. Esqueceu dos demais alegando falta de recursos. Os recursos do pedágio, ressalvadas pequenas melhorias em trechos específicos, não animaram nenhum plano especial de conservação viária; pelo contrário, o abandono foi maior (quase dobrou), com evidentes e ingentes prejuízos à economia paranaense. Esse dado, por si só, bastaria para recomendar a revisão da política de tarifas imposta ao lombo dos viandantes. Ela é draconiana a ponto de fazer – como se acostumou dizer – o pedágio custar mais que os combustíveis em trechos como o que vai entre Foz do Iguaçu e o Porto de Paranaguá.

Ao anunciar retomar o discurso que lhe deu a vitória nas eleições, Requião chega um pouco tarde. A safra agrícola já está congestionando a BR-277, nas cercanias do Porto de Paranaguá. Pelas estradas – pedagiadas ou não – do Paraná, uma grande frota de caminhões sacoleja sobre buracos, monturos e depressões, aumentando o desperdício das sementes que se esparramam continuamente pelo chão improdutivo. Os trabalhos de conservação, mesmo que fossem iniciados imediatamente, não seriam realizados sem os naturais incômodos de bloqueios eventuais e temporárias interrupções. É claro que para esta safra o governo teve pouco tempo, já que tomou posse há apenas dois meses. Espera-se que para o próximo ano essas medidas já tenham o efeito desejado.

Acima de tudo, espera-se que o preço do pedágio – sendo a hipótese de sua continuidade a mais provável – seja justo e consentâneo com a nossa realidade econômica e viária, e que traga proveitos sensíveis à sociedade, não apenas às concessionárias que o exploram a partir de estradas já feitas e pagas. Como está, já se disse à exaustão, constitui abuso insuportável e absurdo. É melhor que acabe.

Voltar ao topo