Orar é desconfiar

Se Deus é onisciente, Ele sabe da necessidade antes mesmo que se faça o pedido. Por essa razão, toda oração traz implicitamente a presunção de se conhecer melhor do que Deus as próprias necessidades. Desconfia-se, portanto, da capacidade Dele de ver e julgar os fatos da vida.

Se todos reconhecem que deve prevalecer a vontade Divina, por que orar? Se Deus permite que haja tanto sofrimento é porque deve existir algum propósito além da nossa compreensão (espera-se ao menos). E Ele não seria maquiavélico e vaidoso a ponto de criar sofrimentos, ou ser omisso em relação a eles (o que dá no mesmo), apenas para angariar seguidores. Apesar da nossa relutância, o sofrimento é uma condição existencial inevitável.

Ora-se, na verdade, porque isso faz bem à saúde, tanto física quanto psíquica. Uma oração não é mais que um desabafo em face das nossas angústias mais profundas. Até mesmo Cristo, na sua última noite, sucumbiu a essa tentação e fez sua oração: ?Meu Pai, se possível, afasta de mim esse cálice!?, mas, em seguida, percebendo a contradição, emendou: ?Todavia não seja como eu quero, mas como tu queres? (Evangelho segundo Mateus, cap. 26, ver.39).

Djalma Filho é advogado – djalmafilho68@uol.com.br

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