Oposição levará ex-secretário do PT à CPI de novo, mesmo preso

Brasília – Mobilizada pelas denúncias do ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira de que o esquema do valerioduto não terminou, a oposição promete levá-lo à CPI dos Bingos mesmo que seja preso e ameaça até abrir uma nova comissão de investigação, se os governistas tentarem impedir o depoimento Está marcada para a tarde de hoje uma reunião dos partidos oposicionistas para decidir o que fazer diante das revelações de Silvinho.

O líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), disse que, se o depoimento do ex-petista for retardado, inclusive com recursos ao Supremo Tribunal Federal (STF), "não restará outra alternativa senão a CPI do Silvinho". Para ele, a depender do depoimento do ex-secretário-geral, a oposição pode retomar o tema do impeachment no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Os fatos são graves", disse o pefelista.

O ex-dirigente petista disse que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza tinha planos de arrecadar R$ 1 bilhão em contratos fraudados de prestação de serviços ao governo federal e que cumpria ordens daqueles que citou como os comandantes do PT: o presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu, o senador Aloizio Mercadante (SP) e o ex-presidente do partido José Genoino .

Ontem, o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), disse que Silvinho vai depor "sem nenhuma dúvida" e anunciou que pediu um parecer da assessoria jurídica para amparar uma possível decretação de prisão, se o ex-dirigente não for encontrado.

"Mandaremos a CPI trazer o senhor Silvio Pereira, mesmo preso. Por duas vezes ele desrespeitou a CPI. O Congresso Nacional não será desmoralizado. Vou usar as prerrogativas da CPI e mandar prendê-lo, se for preciso, por obstrução dos trabalhos da CPI", disse Efraim. O senador disse que será apresentado um requerimento para convocação também de Marcos Valério. "Espero que seja aprovado por unanimidade", afirmou.

Efraim pediu ajuda à Polícia Federal para localizar Silvinho. Até o fim da tarde de ontem, ainda não tinha resposta se o ex-dirigente tinha sido localizado. A convocação de Sílvio Pereira foi aprovada em outubro do ano passado. Por duas vezes, o ex-dirigente não compareceu e a comissão acabou não insistindo em sua presença.

Durante todo o dia de ontem, os governistas insistiram na tese de que as revelações do ex-petista não são assunto da CPI dos Bingos. O primeiro a defender a tese foi o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). "Se houver elementos novos, tem que mandar para a Polícia Federal, o Ministério Público, o Poder Judiciário. Já há depoimento (de Pereira) marcado na CPI dos Bingos. Esse fato já foi investigado Fato novo para uma investigação que já se fez, tem que mandar para o canal competente", disse Renan. Mais tarde, no plenário, Renan, cobrado por Efraim e pelo senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), disse que não tinha intenção de cercear a CPI. "Não vou colocar limites na CPI dos Bingos. No que depender de mim, ajudarei no avanço das investigações", respondeu.

O líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN), disse não ver ligação entre as declarações de Pereira e a CPI dos Bingos, embora tenha ressaltado que não tratou do assunto com nenhum integrante do governo Lula. "O foro adequado é o Ministério Público. Se há fatos novos, têm que ser apurados por quem de direito. Não vejo conexão do Sílvio Pereira com a CPI dos Bingos. Mas a pessoa que dá um espirro mal dado já é chamada na CPI dos Bingos. Não são declarações soltas que devem levar a uma convocação. O Congresso Nacional não é delegacia de polícia", afirmou Bezerra.

A líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), insistiu que o governo Lula investigou empresas de Marcos Valério, cobrou na Justiça uma dívida de R$ 64 milhões da agência de propaganda DNA com a União e que processou o empresário por crime contra a ordem tributária. "Os interesses do senhor Marcos Valério não foram atendidos no governo Lula", declarou Ideli. Embora o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) tenha desqualificado Silvinho e a entrevista ao jornal O Globo, no fim de semana, a senadora usou trechos das declarações do ex-dirigente. "Ele foi contundente em eximir o presidente Lula e categórico ao afirmar que o senhor Marcos Valério não teve acolhida nas coisas que desejava, que foi rechaçado", disse a líder petista.

Já a oposição vê o presidente da República cada vez mais envolvido no escândalo do valerioduto, que abasteceu os cofres do PT para pagar a adesão de parlamentares aliados e pagar gastos de campanha. "O presidente Lula tem que seguir o conselho do senador Eduardo Suplicy e dar explicações no Congresso. Se não tem culpa no cartório, tem que dizer em público. O Sílvio Pereira, na sua brejeirice, apontou que era um cumpridor de ordens e que o comando era de Lula, José Dirceu, Genoino e Mercadante. Vai ficar todo mundo com cara de paisagem? Sílvio desmascarou uma farsa", disse Maia.

Efraim Morais lembrou que Pereira foi "o primeiro homem do governo e do PT" a falar da ação de Marcos Valério e da atuação do presidente Lula no PT. "O que ele disse todos nós sabíamos. Mas ninguém com a intimidade que ele tinha com o governo e o PT tinha dito até agora", disse o presidente da CPI. Para o líder do PSDB no Senador, Arthur Virgílio (AM), "Sílvio Pereira não contou um décimo do que sabe e deve romper a omertà (pacto de silêncio da máfia), em que um quadrilheiro protege outro quadrilheiro".

A reunião das oposições vai reunir PSDB, PFL, PDT, PPS e PV. Será convidada também a ala oposicionista do PMDB, da qual faz parte o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP).

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