Ocupantes do Legacy dizem que não viram avião da Gol

Nos depoimentos dados durante toda a noite de ontem e a madrugada de hoje, os tripulantes (piloto e co-piloto) e os cinco passageiros do jato Legacy 600, que colidiu com o Boeing da Gol, disseram, segundo relato da Polícia Civil de Mato Grosso que sentiram o impacto, ouviram o barulho e nada viram. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou que eles foram ouvidos na qualidade de vítimas. Um dos cinco passageiros é brasileiro: Daniel Robert Bachmann, funcionário da Embraer, da área comercial da empresa.

Recém comprado pela empresa Excell Air Services, o Legacy partiu de São José dos Campos, em São Paulo, com destino aos Estados Unidos e escala prevista em Manaus. Conforme relato da tripulação do jato as conseqüências da colisão com o Boeing se resumiram a um certo desequilíbrio na aeronave, logo controlado e a danos em duas peças: o aprofundador, localizado na cauda do avião e o mindlet, situado na ponta da asa esquerda, e cuja função é auxiliar na estabilidade do avião

Os depoimentos foram feitos separadamente, no âmbito do inquérito que apura as causas do acidente que derrubou o Boeing 737-800 da Gol, com 149 passageiros e 6 tripulantes.

Segundo o delegado Anderson Garcia, que tomou os depoimentos do piloto do avião, Joe Lepore e do co-piloto Jan Palladino, a decisão de pousar na Base Militar da Serra do Cachimbo foi uma "precaução" diante das avarias detectadas no avião, visíveis pela janela. "Foi um dano pequeno, segundo eles", explicou Garcia.

Segundo o delegado os dois tripulantes afirmaram que a aeronave, que fora comprada dias antes na fábrica da Embraer em São José dos Campos, possui equipamento anticolisão (dispositivo que identifica a aproximação de outra aeronave). Mas por um motivo desconhecido o alarme não disparou. Piloto e co-piloto também informaram que a rota que seguiam a 37 mil pés de altitude (aproximadamente 10 quilômetros) foi autorizada pela Torre de Controle de São José dos Campos e que não se desviaram dela.

A Polícia do Mato Grosso vai requisitar o plano de vôo do Legacy arquivado na torre de controle de São José dos Campos, vai analisar o conteúdo da caixa preta das duas aeronaves (na verdade são amarelas e trazem o registro de alterações ocorridas durante os vôos), e vai periciar a aeronave, que está retida na Base Militar da Serra do Cachimbo. Os resultados serão confrontados com os depoimentos. "Vamos checar. Se ficar comprovado que houve negligência, imprudência ou imperícia, piloto e co-piloto poderão ser enquadrados no crime de homicídio culposo", explicou Garcia, que também é chefe e inteligência da Polícia Civil do Mato Grosso.

Conforme relato dos dois tripulantes, o Legacy decolou de São José dos Campos às 14h47. A colisão teria ocorrido por volta das 17 horas, e 30 minutos depois o jato fez o pouso de emergência na Serra do Cachimbo. A aeronave estava no piloto automático , como de praxe, e passou a ser conduzida manualmente após o impacto. Piloto e co-piloto informaram que estavam acordados, que a visibilidade era boa e que estavam recebendo normalmente as comunicações do Comando do tráfego aéreo

Os tripulantes, segundo relato do delegado, informaram que não viram nada e que só perceberam o impacto. O jornalista a bordo da aeronave, Joe Schrkei, relatou, segundo o delegado, que estava escutando uma reportagem dele, no momento do impacto. "Sentiu o impacto, olhou pela janela e viu que a aeronave tinha sido atingida!", disse Garcia. Segundo relato do delegado, o jornalista americano teria dito, também, que logo se tranqüilizou, porque o avião se estabilizou.

Os tripulantes e passageiros do Legacy deixaram a sede da Polícia Civil de Cuiabá por volta das 6 horas de hoje, e seguiram para o aeroporto. Eles retornaram para São José dos Campos e estão livres para deixar o País. "Não há motivo para retê-los", explicou Garcia. Segundo ele, se ficar comprovada qualquer responsabilidade do piloto e co-piloto no acidente, eles poderão ser ouvidos por carta rogatória. Uma eventual sentença seria homologada pela Suprema Corte Americana o cumprimento da pena poderia ocorrer nos Estados Unidos. Os tripulantes e passageiros do Legacy estavam acompanhados de mais dez pessoas. Entre elas, o vice-consul norte-americano em Brasília, um advogado da Embraer e funcionários da empresa.

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