O que aí está

O ministro Antônio Palocci, da Fazenda, com sorriso amarelo, jura que não. Mas a alta dos juros – a segunda em menos de dois meses do governo Lula – está levantando uma grave suspeita: a rumorosa meta de mandar os mercados para casa, pondo fim à especulação global, com a simpatia neoliberal, e incentivar a produção, com a geração incontinenti de pelo menos dez milhões de novos empregos, está correndo sério risco. Com dólar alto, ganha só quem exporta; o mercado interno, sufocado pela ciranda inflacionária e pelos juros na estratosfera, passa a pão e água. Exegetas da economia de mercado garantem que, para segurar o barco andando, vem aí um período pior, de recessão. Coisa passageira se a guerra do Iraque também durar pouco.

Exceto o pessoal dos ditos mercados, a decisão do Comitê de Política Monetária – Copom, não agradou nem a gregos, nem a troianos. Da Força Sindical à CUT, a reprovação é unânime. Líderes da oposição e da própria ala do PT que faz contestação uniram suas vozes no mesmo coro de decepções, lamúrias e críticas. “É necessário tocar o dia-a-dia da economia – disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães – mas o que temos visto é a frustração de todas as bandeiras com as quais o PT venceu as eleições de outubro do ano passado.” De fato, entre o discurso de ontem e a prática de hoje – o que aí está – vai um oceano. O pessoal do PT radical acha que o ministro Palocci está vivendo em outro mundo, fora do Brasil.

O ministro garante que vive e respira aqui mesmo e é por isso que defende as medidas tomadas, por razões essencialmente técnicas. Tão técnicas que aposta no efeito concreto que elas haverão de gerar em curto espaço de tempo. Um desses efeitos seria o controle do dragão inflacionário, já solto pelas vias e vielas da economia tupiniquim. “Como a inflação deu sinais de crescimento em janeiro, certamente essa questão esteve no centro da avaliação do Copom”, raciocina um Palocci já sem enrubescer, olhar perdido no horizonte. O problema é se esses sinais continuarem após o carnaval da esperança.

Se a inflação é a causa do problema, e quem puxa a inflação são exatamente os preços administrados pelo governo, que fazer? O presidente Lula achou a saída no mesmo dia: a culpa é das agências reguladoras, que regulam tudo menos o preço das tarifas e serviços, engessados em contratos que terceirizam o poder político brasileiro, a ponto de o governo nada poder fazer. Pior: a ponto de o Planalto receber a notícia dos reajustes pelos jornais, no dia seguinte. Em outras palavras, é culpa do governo que passou. Se Lula é sutil na crítica, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, não. Para ele, é preciso “resgatar a inteligência do Estado”, tirando das mãos dos integrantes do conselho dessas agências (nomeados pelo governo anterior) o poder de decidir sobre preços, contratos e tudo o mais.

De fato, dolarizaram – segundo afirma o líder do PTB no Congresso, Roberto Jefferson – os preços do aço e dos combustíveis. O preço da gasolina, do óleo e do gás de cozinha está batendo recordes. Mas… e aqueles da energia elétrica, dos telefones, das tarifas do transporte público, dos correios, dos pedágios e outros? Está na hora de o governo tomar as rédeas e assumir a direção do barco antes que seja tarde e já nem mais seja possível distribuir responsabilidades, como tem feito até aqui. A diferença entre a esperança e o medo é apenas um estado de espírito.

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