O protesto do vice

O vice-presidente da República e ministro da Defesa, ex-senador José Alencar, deixou o PL por discordar do fato confesso de que o seu partido recebeu um megamensalão do PT. Deveria ser de R$ 10 milhões, conforme declarou o presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, mas o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, deu um calote de 40%. Pagou somente a também gigantesca importância de R$ 6 milhões.

Depois de ter confessado o recebimento desse mensalão, o deputado paulista Valdemar Costa Neto renunciou ao seu mandato parlamentar. Mas não deixou a presidência do PL. Apenas precaveu-se contra a cassação do seu mandato, o que o tornaria inelegível por oito anos. Não foi, por certo, uma atitude ética ou de arrependimento, mas uma manobra malandra de auto-salvação.

O vice-presidente José Alencar, conhecido como homem sério e muito rico, teria conquistado pelos próprios meios um mandato. O de vice, conquistou-o como apêndice da candidatura Lula, do PT, num absurdo acordo político entre uma agremiação de esquerda, socialista, e uma liberal. Tem valido tudo para chegar ao poder.

De qualquer forma, Alencar ficou envergonhado ao saber que o seu PL foi pago pelo PT para fazer um acordo que facilitasse a eleição de Lula e aumentasse sua base parlamentar. Por discordar desse espúrio acordo de financiamento político e principalmente da permanência de Valdemar Costa Neto na presidência do PL, saiu do partido e vai agora escolher outra legenda.

Delúbio Soares, que era tesoureiro do PT e não detém nenhum mandato popular, dizendo-se o distribuidor oficial dos mensalões para financiamento ilegal das campanhas e compra de apoios para o governo Lula, estava para ser julgado pela comissão de ética do seu partido. E seria dele expulso por ter culpa em cartório, comprovada e confessa, e ser, evidentemente, bode expiatório de muitos políticos que usaram o sujo esquema financeiro. O que fez? Protelou sua expulsão com uma medida judicial em que busca provar que não lhe deram oportunidade de ampla defesa. Se procedesse com a mesma dignidade do vice José Alencar, teria renunciado, nem esperando a expulsão.

Acontece que o esquema dos mensalões, que parece nem eram mensais nem tão pequenos quanto de início se cogitou, mas de milhões e milhões, beneficiou muitos outros políticos. Os parlamentares do PL cujo presidente confessou e renunciou, chefes de executivos do PT de estados e municípios, representantes de outras legendas aliadas e, queiramos ou não, o próprio presidente Lula.

Pode até ser que não tenha posto a mão no dinheiro, mas o Partido dos Trabalhadores não tinha recursos para sua campanha e a de tantas outras agremiações com as quais se aliou para chegar ao governo federal. Se Lula de alguma forma seguisse a ética de José Alencar, teria de deixar pelo menos o seu PT. Se mais rígida fosse a ética que seu partido por tantos anos pregou, teria de renunciar à própria presidência da República. Que bom que a moral varia de acordo com a latitude e a longitude. Não é a mesma para um Alencar, um Costa Neto, um Delúbio ou um Lula.

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