O primeiro areópago

Para marcar a solenidade de inauguração dos novos Laboratórios de Comunicação Social da PUC, ocorrida em 7 de junho, escolhemos uma expressão de Sua Santidade João Paulo II, um papa que usa a mídia com maestria. Ele reconhece serem os meios de comunicação o primeiro areópago dos tempos modernos. Na antigüidade grega, o areópago era o lugar onde se reuniam os sábios e os artistas, os magistrados e os filósofos, para debater, discutir e deliberar sobre os rumos da polis, ou da cidade. Esse espaço é, hoje, ocupado pela mídia.

A ânsia de comunicar é um dado profundamente humano. Desde a mais tenra idade, esforçamo-nos por compreender e por nos fazer compreender. O mito da Torre de Babel, fato ou lenda, descrito no livro do Gênesis, revela a necessidade do entendimento entre os homens para poderem realizar os seus sonhos. O projeto coletivo era construir uma torre que alcançasse o céu. A iniciativa fracassou por causa da confusão das línguas, em outras palavras, por falha na comunicação. E o antigo problema da humanidade continua o mesmo. Atualmente, altas e aparentemente sólidas torres não ficam em pé por absoluta falta de comunicação e de entendimento entre os homens.

O século XXI está nascendo sob o impacto dessa nova revolução da informação ou dos meios de comunicação social. Vivemos na chamada sociedade da informação e do conhecimento e esse fato tem influência direta no complexo sistema de globalização no qual estamos inseridos’, O sonho da Torre de Babel converteu-se no sonho de criar sistemas de comunicação em espaço cibernético.

O sonho humano de alcançar o céu, entretanto, permanece vivo, talvez mais vivo do que nunca. Alguns continuam acreditando que chegarão lá construindo torres cada vez mais altas e mais luxuosas. Outros, mais radicais, acreditam que garantirão a sua chegada lá destruindo torres. O fato é que ainda não aprendemos a lição bíblica elementar de que o céu só pode ser alcançado com o entendimento, a solidariedade e a cooperação entre os seres humanos. Talvez seja mais fácil chegar ao céu construindo pontes que unem as pessoas do que construindo torres que as isolam.

Toda sociedade pode avaliar o prejuízo humano causado pelo mau uso dos meios de comunicação social. A Escola de Frankfurt, ao formular a Teoria Crítica, mostrou a necessidade de se considerar o conceito de indústria cultural, seus méritos e seus vícios. Todos estamos convencidos, por certo, de que a televisão, por exemplo, tem um enorme potencial educativo, político e socializador. Sabemos, por outro lado, das conseqüências do mau uso dessa tecnologia, seja na promoção da violência, seja na divulgação de contravalores, seja na divulgação da cultura da morte. As instituições e as pessoas esclarecidas e bem intencionadas devem fazer a opção pela cultura da vida.

Os comunicadores são os intérpretes da realidade para o público. A par disso, espera-se que sejam os protagonistas da construção de uma sociedade melhor para todos, com a qual sonham as pessoas de bem. Almejamos que os comunicadores sejam conscientes de sua responsabilidade social e realizem seu trabalho com competência e seriedade, levando em conta, além dos aspectos técnicos, os aspectos artísticos, culturais e éticos de sua prática profissional.

Nota: A história da comunicação entre os seres humanos está maravilhosamente estampada nos vitrais do segundo andar da Biblioteca da Universidade Católica, campus Curitiba, obra do magistral e saudoso artista plástico paranaense Poty Lazzarotto.

Clemente Ivo Juliatto

é reitor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba e integrante da Academia Paranaense de Letras.

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