O preço da burocracia

Um empresário norte-americano especializado em comprar empresas em má situação ou à beira da falência e recuperá-las, certa vez deu um conselho: é preciso, em cada empresa, ter um vice-presidente cujo único trabalho é andar de sala em sala pegando a papelada, rasgando tudo o que é dispensável aos gritos de “p. que os p.!” Ele foi o fundador da Avis, uma das maiores locadoras de automóveis do mundo e esse conselho consta de um livro de sua autoria.

No Brasil, já tivemos até um ministro da desburocratização. Muito bem intencionado, porém educado, não conseguiu acabar com a papelada inútil.

Agora, Ana Adail, coordenadora-geral de benefícios do INSS, com maior sucesso anuncia uma economia de R$ 6,5 milhões para aquele Instituto. Essa economia será possível graças a uma providência simples e perfeitamente justificável. O INSS envia aos aposentados e pensionistas, a cada três meses, um extrato de pagamentos. É papel, impressão, postagem, etc., que custam ao Instituto uma fortuna. Dinheirama que poderá ser reduzida em R$ 6,5 milhões se os extratos, ao invés de serem trimestrais, forem semestrais. E talvez até possam ser anuais, com maior economia ainda, só sendo fornecidos mais amiúde se solicitados.

É claro que, diante da massa de dinheiro que o INSS paga e, mais ainda, que necessita para cobrir seu gigantesco déficit, essa economia parece irrisória. Entretanto, se verificarmos que ela equivale a 32.500 aposentadorias de um salário mínimo, e é essa a importância que a maioria dos trabalhadores recebe, olharemos com mais respeito a façanha antiburocrática que em boa hora o INSS está tomando. A coordenadora-geral de benefícios do INSS, Ana Adail, disse ainda que muitas despesas e transtornos poderiam ser evitados se os aposentados, pensionistas e demais segurados do Instituto atualizassem seus endereços com a freqüência necessária. É óbvio, pois os endereços desatualizados provocam trabalhos inúteis e expedição de correspondência que não chega aos destinatários, embora tenham alto custo.

Aqui na redação de O Estado perguntamos a várias pessoas, a maioria jornalistas, como avisar ao INSS uma mudança de endereço. Por telefone, indo a alguma de suas repartições, por e-mail, correio? E qual o endereço? Tem fila ou não? Qual o horário de funcionamento? Por incrível que pareça, ninguém soube responder. Portanto, dá um trabalho danado para descobrir como avisar ao INSS a mudança de endereço do aposentado, pensionista ou segurado, para evitar que lá na repartição eles tenham trabalho e despesas inúteis. Que tal divulgar um telefone ou outro meio prático de avisar mudanças de endereço?

Se esta economia está sendo possível para o INSS, com uma providência tão simples e inteligente, é bem possível que outras possam ser tomadas, reduzindo ainda mais as despesas da previdência social. E isso seria ótimo, já que o sistema é altamente deficitário. Aliás, todos os candidatos à Presidência falam em reforma da previdência para reduzir ou acabar com o déficit, o que é necessário. O que falta é algum candidato apresentar proposta factível para acabar também com os déficits nos orçamentos dos aposentados e pensionistas. Um ou outro promete dobrar o salário mínimo ou oferecer aumentos substanciais. Só não diz como fará com as aposentadorias que estão atreladas ao mínimo e qualquer aumento deste estoura ainda mais o déficit previdenciário. A demagogia também sai caro.

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