A eleição brasileira chamou a atenção dos principais centros de decisão dos países industrializados, em particular os Estados Unidos, onde foi possível cogitar incipiente preocupação sobre o enfraquecimento de Lula, pelo fato de não ter conseguido ganhar no primeiro turno. A tese foi ventilada pelo cientista político Arturo Valenzuela, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade de Georgetown, em Washington, segundo a agência noticiosa BBC Brasil.

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O professor, ex-assessor do presidente Bill Clinton, acredita na vitória de Lula no segundo turno, mas salientou a preocupação com a perda de prestígio político por parte do presidente brasileiro, tendo em vista a queda rápida de sua preferência pelo eleitorado. A descoberta de mais um escândalo nas cercanias do presidente seria letal, estima Valenzuela, para quem ?um Lula enfraquecido seria mais desestabilizador na situação política do Brasil e isso seria problemático, pois os Estados Unidos, com seus interesses em outras partes do mundo, precisa de um Brasil forte na região?.

A referência é óbvia ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, personagem em vertiginoso ritmo de afirmação na América Latina, não faz muito tempo içado pela revista britânica The Economist à condição de líder mais importante da região, superando inclusive o amigo Lula. A supremacia política de Chávez não interessa ao governo de George W. Bush, embora não se registre preferência manifesta em relação à eleição de Lula ou Alckmin para a chefia do governo brasileiro.

Em relação ao atual presidente, a Casa Branca não consegue intuir nenhum agravamento no trato bilateral, apesar das dificuldades de comércio entre os dois países, pois os diplomatas encarregados dessa parte do mundo não incluem o presidente brasileiro entre os influenciados pelo governante venezuelano. A avaliação tem base na eqüidistância mantida por Luiz Inácio das ideologias antagônicas a Washington, como é o caso de Chávez e Evo Morales, presidente da Bolívia.

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A BBC Brasil veiculou em seu boletim eletrônico uma reportagem alusiva à eleição presidencial, citando o encurtamento da diferença de votos entre Lula e Geraldo Alckmin e a realização do segundo turno, lembrando que houve frustração dos militantes petistas que acompanharam a apuração na sede do partido, em São Paulo. O coordenador da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, foi mencionado como autor da frase com lugar destacado na antologia dos pensamentos estapafúrdios: ?Não acredito que o escândalo do dossiê tenha prejudicado o presidente Lula?. Garcia não conseguiu fazer-se entender por nenhum outro jornalista, dentre os muitos que o questionaram em busca de esclarecimentos adicionais sobre o caso.

A repercussão no mercado financeiro mundial foi positiva em relação ao segundo turno, e uma eventual vitória de Alckmin ofereceria maior oportunidade para a reforma institucional. O choque de gestão, parte essencial do discurso do tucano, soa de modo agradável aos ouvidos dos operadores do mercado e, em particular, dos investidores internacionais.

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Analistas ouvidos pela BBC afirmaram que as vitórias de José Serra e Aécio Neves fortalecem a posição do PSDB e renovam a perspectiva no êxito eleitoral de Alckmin, embora o façam com cuidado para não precipitar um prognóstico falho sobre a vitória tucana.