O mau pagador

Os governos têm um papel importante e didático sobre a população, ensinando-lhe comportamentos. No Brasil, nem sempre são éticos e corretos. Se seguir comportamentos de governantes, corremos o risco de passar por mentirosos, caloteiros ou até marginais. Não nos referimos necessariamente ao atual governo Lula, mas a todos os que o antecederam e, oxalá, não continue a mesma coisa com os que venham a sucedê-lo.

Os governantes costumam mentir ao prometer o que sabem que não podem cumprir e ao manipular dados para enganar o eleitorado, mostrando sucessos que não estão acontecendo ou que ocorrem em menor medida. Às vezes, nem aconteceram. A marginalidade é comum no seio do serviço público e o pior: é com dinheiro do povo. Nos últimos tempos, graças em especial à ação vigilante do Ministério Público, que já querem calar, tem sido revelados escândalos escancarados e até ridículos, como o Banco do Brasil comprando ingressos para um “show” de uma dupla caipira, distribuindo-os para alguns de seus funcionários e, depois, descobrindo-se que a renda destina-se à construção de uma sede para o PT na capital paulista. O banco oficial, ou seja, do povo, pagando a construção da sede de um partido político, não por acaso o partido do presidente da República.

Mais abrangente é a prática do calote por parte dos governos. Já está em curso a devolução de parcelas do FGTS subtraídas de trabalhadores em antigos planos econômicos e que a Justiça determinou que fossem devolvidas. Milhares de trabalhadores recorreram aos tribunais e muitos não. Aí entrou a chantagem do caloteiro. O governo decidiu que quem não o acionou judicialmente, exigindo seus direitos, recebe o dinheiro antes e em longas prestações mensais. Quem acionou, tem de desistir do apelo à Justiça para receber em parcelas. Se não o fizer, não há acordo. Deve esperar a sentença final. E isso quando o governo sabe e reconhece que deve. Deve, mas só paga nas condições que impõe.

O mesmo está acontecendo com os aposentados que têm créditos com o governo porque, em determinado período, seus proventos não foram reajustados como manda a lei. Uma medida provisória, que é um substituto do ditatorial decreto-lei, se bem que apreciável a posteriori pelo Congresso, determinou as normas de devolução do dinheiro abocanhado pelo governo.

Depois de concordarem e se espantarem por terem sido enganadas, entidades de aposentados chegam à conclusão de que, de acordo com as regras impostas pelo poder público, o governo pagará as dívidas para com 83,5% dos credores aposentados no prazo de seis a oito anos. Isso quer dizer 1,57 milhão das 1,88 milhão de pessoas com direito à revisão. Ainda de acordo com a entidade dos aposentados, a Abrra – Associação Brasileira de Revisão de Aposentadorias, apenas 9.500 aposentados, 0,5% do total, têm mais de 70 anos e direito a menos de R$ 2.000 para receber. Essas seriam as pessoas que receberiam em até dois anos, conforme a medida provisória.

Pior do que isso: além de pagar a longo prazo os que têm mais a receber e oferecer condições especiais a um mínimo de idosos, o governo não vai pagar o 13.º salário. Um calote evidente. Fica a lição do governo. Deve-se ser mau pagador, pois ele o é. Deve-se tapear os credores, pois ele tapeia. Devem-se fazer absurdas exigências, exigir prazos a perder de vista e pagar abaixo do devido, pois o credor não está em posição de exigir seus direitos. É o que está fazendo e ensinando o governo.

Voltar ao topo