O maior espetáculo da terra

Faltou um pouco de espetáculo no anúncio da vitória de Arnold Schwarzenegger nas eleições para o governo da Califórnia. Os jornais de TV tinham que abandonar os âncoras e chamar Ramos Calhelha, a voz dos trailers, para ler a notícia. A música de fundo teria que ser o tema da Twentieth Century Fox, e o final da nota teria que ter a frase: “Daqui a pouco, em um estado perto de você”. Por que isso? Porque foi essa a decisão dos californianos: transformar seu estado em uma grande Hollywood. Ou seja, numa Hollywood king size, sem filtro nenhum.

Tanto que uma das personalidades ouvidas pela imprensa americana anteontem foi Sylvester Stallone, que afirmou que os atores não entendem nada de política. “As pessoas se deixam levar pela popularidade e não sei se essa é a melhor maneira de lidar com a política. O que deveriam fazer é se dedicar a representar”, comentaram o eterno Rocky Balboa e o nervoso Rambo. Claro que aí vai uma ponta de inveja, ainda mais que Stallone e Arnold sempre foram “adversários” nas brigas pela bilheteria.

Mas ele não deixa de ter uma ponta de razão. Até há pouco, não se sabia dessa veia política do Exterminador do Futuro. Nos últimos dois anos, descobriu-se que ele é um liberal embrenhado entre os republicanos, que andam mais reacionários que nunca. Ele é a favor do aborto, quer uma economia aberta para investimentos (e estes sendo taxados com vigor) e prega a união entre republicanos e democratas para uma Califórnia forte.

Até aí, maravilhoso. Mas ninguém governa só com boas intenções. O jogo político é fundamental, as articulações são decisivas para implementar as reformas necessárias, principalmente na Califórnia, que tem um déficit de US$ 34 bilhões. Por mais que gostem de Conan, do Predador, do Tira no Jardim de Infância e do Último Grande Herói, Schwarzenegger vai ter que tomar medidas impopulares. A primeira delas é aumentar os impostos. E aumentar bastante, porque o estado precisa gerar renda rapidamente.

E como ele vai fazer isso? A princípio, o governador eleito pretende taxar os cassinos. Só que ele vai entrar em atrito justamente com os maiores financiadores de campanhas eleitorais, e não se pode esquecer que no ano que vem o presidente George W. Bush (que pouco apoiou Arnold) tentará a reeleição, provavelmente concorrendo com o general Wesley Clark, que parece catalisar todas as expectativas democratas. Sem grana, não se faz campanha, e não se faz publicidade na TV, já que nos Estados Unidos não existe horário eleitoral gratuito.

Portanto, o governo-filme de Arnold Schwarzenegger passa a ser decisivo no quebra-cabeça político americano. Sim, porque ele é agora a estrela ascendente nesse cenário, até porque é tão (ou mais) famoso que o próprio presidente Bush. Tanto que já se fala abertamente que o ator-governador é potencial candidato à presidência em futuras eleições, já o imaginam enfrentando Hillary Clinton. E o fortão terá que ser mais governador e menos astro, se ele e os republicanos querem alguma coisa a partir de agora.

Cristian Toledo

(globalizacao@pron.com.br) é repórter de Esportes em O Estado.

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