O inchaço do MST

As autoridades e os meios de comunicação, além dos donos de terras, acabam de descobrir que o MST vem inchando assustadoramente. Está arregimentando desempregados, sub-empregados, favelados, enfim, um sem número de desapossados que não são agricultores sem chão para plantar, mas, de qualquer forma, carentes de coisas essenciais. Muitos são moradores urbanos e estão desempregados. Outros vivem no submundo das favelas, trabalhando em bicos, sem carteira assinada e previdência social. Muitas famílias têm pouco ou nada para comer, não têm escolas nem assistência à saúde. Jamais plantaram um pé de couve, mas o que importa isso? Para quem nada tem, acenar com um pedaço de terra para plantar é uma tentadora promessa. Essa gente não tem vocação para a agricultura. Nem está, por enquanto, motivada para invadir terras alheias, produtivas ou não, públicas ou privadas. Quer, sim, salvar-se.

O fato de nunca terem plantado não assusta, pois imaginam que podem aprender. A necessidade obrigará a isso. Há a sensação, senão a certeza, de que agora estamos sob um governo que trata o problema com maior simpatia, prometendo fazer a reforma agrária que, diz, não foi feita, nem seriamente começada, por seus antecessores.

O governo Lula sempre pregou a reforma agrária e seu partido, o PT, esteve ligado ao MST e alguns de seus membros, até em invasões de terras. Portanto, é hora de invadir porque o governo Lula vai atender. Este é, pelo menos, o raciocínio que se incute nos novos sem-terra e nos velhos militantes da luta pela reforma agrária. José Rainha, um dos lideres dos sem-terra, já prometeu uma nova Canudos na região do Paranapanema, extremo oeste de São Paulo.

Os donos de terras, a maioria delas produtivas e responsáveis pela já expressiva produção agrícola do País, começam a reagir e já admitem fazê-lo com capangas armados. Se o fizerem, estarão, como os sem-terra que usam a violência e invadem terras produtivas, infringindo a lei. Se não, pode desorganizar-se a agricultura do Brasil, um dos principais esteios de seu processo de desenvolvimento. Aliás, um dos poucos setores que não está mostrando tendência à recessão.

As lideranças dos sem-terra, por sua vez, o que fazem é manobrar essa massa de miseráveis, alguns verdadeiramente agricultores sem terra, outros gente sem casas, sem escolas, sem empregos, sem comida. O objetivo dessas lideranças é o poder, não importa que seja conquistado pela força. Têm motivações ideológicas e um caldo de cultura de fácil efervescência.

Enquanto isso, autoridades do governo Lula, inclusive o ministro da Justiça, dizem que não será admitida nenhuma ação ao arrepio da lei. Dizem com energia, mas, enquanto isso, ao arrepio da lei se desenvolvem novas ações todos os dias, com invasões de terras, mandados de reintegração não obedecidos e resistência armada de fazendeiros, já para não falar no inchaço dos movimentos de sem-terra com desempregados urbanos.

Há muitos pontos de desgaste no atual governo, o principal dos quais a incapacidade de promover a criação de empregos via desenvolvimento e a reforma previdenciária. Mas o problema dos sem-terra, verdadeiros e falsos, parece-nos seu mais sensível calcanhar de Aquiles. Por mais que haja manipulação das massas necessitadas e desassistidas, é um problema real de miséria que está aumentando.

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