O fim da picada

É bastante conhecida a música do maestro Tom Jobim Águas de março, interpretada por Elis Regina. Ambos já morreram, mas a bela canção é rememorada agora, quando o compositor reconhecido internacionalmente completaria 80 anos de idade. Também um episódio político lembra a música que, num de seus versos, diz ?é pau, é pedra, é o fim do caminho?. Pois um episódio político que se desenrola com graves conseqüências para o governo e para o País é o fim do caminho, o fim da picada. O ministério de Lula vai ficar indefinido até março, confirmando que neste País há férias de governo desde as vésperas do Natal e de fim de ano. O governo do Brasil só começa a funcionar depois do Carnaval.

Nelson Jobim, gaúcho e ex-ministro do STF, político de longa carreira, e Michel Temer, deputado federal por São Paulo e atual presidente do PMDB, disputam a chefia nacional do partido. As relações entre Lula e Temer têm como liame recentemente atado o interesse do PMDB de ser o partido majoritário e forte no governo federal. E Lula precisa dele para ter maioria parlamentar. O PMDB é dono da maior bancada no Congresso. Só que estava dividido em duas turmas: a pró e a contra Lula. Temer liderava a contra. Perdeu nas fileiras do PMDB e apressou-se em aderir, sendo porta-voz da exigência de uma forte presença da agremiação no ministério (querem no mínimo cinco pastas). A vitória de Arlindo Chinaglia (PT) para a presidência da Câmara deveu-se ao apoio do PMDB, contra a torcida de Lula, que queria o candidato comunista Aldo Rebelo. Já Jobim deixou o Supremo para ser alguém na política. Eleito deputado federal, quer também a presidência do PMDB para conduzi-lo à condição de agremiação decisiva nas deliberações parlamentares de interesse do governo.

Os dois andaram se reunindo no apartamento de Jobim, em Brasília, buscando um acordo que se mostrou impossível. Os dois devem resolver no voto na convenção da sigla, que está marcada para o distante 11 de agosto. Jobim conta com apoios importantes, como o do presidente do Senado, Renan Calheiros, de Alagoas, e o do ex-presidente da República e senador José Sarney, do Amapá (todo mundo sabe que ele é do Maranhão). Temer é paulista e tem apoio de uma grande ala do PMDB para continuar no cargo. Entre os que o apóiam estão o líder da bancada na Câmara, Henrique Alves, e Geddel Lima, um dos ministeriáveis de Lula. A disputa também atinge o PMDB no Senado.

O Palácio do Planalto não diz nem sim nem não, muito pelo contrário. Lula nunca foi íntimo de Michel Temer e gosta de Nelson Jobim, desejando tê-lo como ministro. Afeto conhecido, mas que não é declarado publicamente para não revelar um triângulo amoroso perigoso para os planos e passos futuros do governo. Primeiro a formação do ministério. E, como grande tacada, o PAC, projeto amplo e complexo de crescimento econômico, que Lula divulgou, mas que terá de passar, através de várias leis e medidas provisórias, pelo Congresso dividido, por enquanto, até na bancada maior do situacionismo, a do PMDB.

Para o País, começar a governar três meses depois da posse do presidente, mas na prática com quase seis meses de atraso, porque desde as eleições, no início de outubro, praticamente não se fez nada, deixando parados os poucos, mas importantes projetos mais ou menos alinhavados, ?é pau, é pedra, é o fim da picada?.

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