O fascínio do futebol alegre

O Santos quase criou no domingo uma comoção nacional pela conquista de seu primeiro campeonato brasileiro – desde que essa expressão foi criada e aceita como a verdadeira competição nacional entre clubes profissionais de futebol. Um futebol alegre, ofensivo, desconsertante (para os adversários) e que encantou a legião de torcedores excluídos da final pela desclassificação precoce de suas equipes. Um exemplo a ser seguido, mas com uma fórmula para não ser copiada.

Não é assim que funciona o futebol. Os “meninos da Vila” não passam de um mero acerto ao acaso de um clube quebrado, com dirigentes paternalistas e um técnico centralizador. Dificilmente será repetido pelo próprio Alvinegro praiano, já que o sopro de novidade envolvendo a sua pretensa jovem equipe ficou para trás. O romantismo cometido neste brasileirão já foi. Agora, o time vai tratar de aparar as arestas e tocar o barco. Os credores baterão à porta, as estrelas serão assediadas e a pressão de disputar uma Copa Libertadores será muito maior que pegar os boquirrotos do Timão.

Agora é a hora de ver quem tem mais garrafa vazia para vender, como diria o jornalista Juares Suares. Será o momento para o torcedor observar como irá se comportar o presidente santista, Marcelo Teixeira. Se vai farrear e prometer manter suas estrelas a qualquer custo ou vai usar a razão e montar a equipe de 2003 conforme as condições do clube, para enfrentar as competições da próxima temporada e as cobranças devido ao sucesso alcançado. Prometer é fácil, mas quase ninguém mais acredita no que dizem os dirigentes. Descontentar as estrelas e segurá-las no Brasil por vaidade está provado que não dá certo.

O Santos tem uma dívida enorme e precisa saldá-la para continuar sobrevivendo e projetar um futuro mais promissor. Negociar seus principais jogadores com equipes do exterior não é feio. É uma necessidade. Esperar para ver se Diego e Robinho vão se valorizar mais é como tentar especular com ações na bolsa. Nunca se sabe para que lado vai caminhar a economia e o risco – não o Brasil, mas o desses garotos mascararem – é grande.

Então, qual seria a solução? Primeiro, é preciso investir decentemente nas categorias de base. Formar atletas para jogar futebol e, principalmente, aquele futebol praticado no próprio País. Segundo, é preciso que os clubes se livrem dos atravessadores do talento alheio. Empresários, procuradores, assessores, dirigentes e puxa-sacos – é claro que existem os bons, mas são minorias – se aproveitam da ingenuidade de bons jogadores, faturam em cima e acabam muitas carreiras promissoras.

Não é fácil, mas é possível. De onde vieram Robinho e Diego também poderão surgir outros talentos que possam fascinar a arquibancada. É só procurar. Sempre vai haver um moleque abusado dando dribles por aí. Resta saber se essa política de “pés no chão” será usada devido à crise no futebol ou será o novo norte a ser seguido pelo esporte no Brasil. Vamos torcer para que, independente das políticas internas dos clubes, o talento seja privilegiado.

Rodrigo Sell

(rsell@uol.com.br) é repórter de Esportes em O Estado

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