O econômico e o social

O governo Lula tem sido apontado por autoridades, observadores e a imprensa estrangeiros como uma administração bem sucedida no campo econômico, porém deixando a desejar no campo social. Tal visão estrábica domina inclusive os comandantes das principais áreas do governo, que consideram índices positivos no risco-Brasil ou assemelhados, bom desempenho nas balanças de pagamentos e comercial e elevados superávits primários como vitórias suficientes, pelo menos para garantir a volta do crédito externo, que havia desaparecido na campanha eleitoral, quando o que se esperava era a vitória de um candidato de esquerda, socialista, contrário aos compromissos financeiros externos, quando não aos seus próprios investimentos.

O que agrada lá fora é “tapa-boca”, aqui dentro, da oposição dita neoliberal. Lula está fazendo na sua administração, no campo econômico, o que fazia em menor dose e com menor sucesso o governo FHC. Rolar a dívida economizando o que faz falta para investimentos internos fixos, desenvolvimento econômico e aplicações expressivas no campo social.

Os que esperavam do governo Lula ênfase na política social, mesmo que com sacrifício das metas ditas econômicas, as ligadas ao endividamento do setor público interna e externamente, estão decepcionados ou, pelo menos, conformados, acreditando que esta é uma fase que um dia passará, embora já esteja durando um ano e sem perspectivas de mudanças substanciais.

Os programas sociais existem e são muitos. Melhor que sejam poucos e grandes, capazes de atender mais gente, melhor e em todo o território nacional. Mas onde o dinheiro? Como cumprir as metas ditas econômicas se gastarmos em programas sociais as economias que temos de fazer para melhorar o perfil do nosso endividamento?

Há uma visão distorcida da atual administração. As esquerdas que a compõem, salvo os chamados rebeldes, os autênticos, engolem a política que era de Malan em doses duplas, crendo que os objetivos sociais, com que sempre sonharam, podem e talvez até devam ser postergados. Somam seu conformismo, quando não aplausos, aos dos analistas estrangeiros, endeusando o governo Lula porque faz, nesse campo, uma administração muito semelhante àquela de FHC, que desejavam continuasse.

Já as esquerdas ideológicas teimosas, os rebeldes, e as vítimas dessa política que deixa em segundo plano o social, vêem esta administração como um governo neoliberal travestido de populista, sem chances próximas de arrumar a casa em tempo de atender o social antes do rompimento do seu tecido, com a explosão de greves, revoltas e uma epidemia de miséria atingindo um número cada vez maior de brasileiros.

No momento, tentam-se unificar projetos sociais e lançar novos, como lenitivos à difícil situação em que se encontra o País. E insiste na política econômica tão aplaudida pelos credores.

Quanto tempo durará essa visão dos analistas e esse sistema dúbio de gerir um governo que se elegeu para atender o social, mas que se dedica, com todas as suas forças, a economizar recursos para agradar aos credores? Durará o tempo em que for possível, com um discurso otimista, fazer as massas, principalmente os desempregados, acreditarem que, no final, a coisa vai dar certo. Mas este tempo tende a encurtar-se na medida em que aumenta o desemprego, a fome e a miséria, pois suas vítimas simplesmente não entendem o paradoxo. Ou é um governo capitalista ortodoxo ou uma administração voltada para o social? As duas coisas, não parece possível.

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