O curitibano dirige mal

Se Curitiba pretende atingir o nível de qualidade de vida anunciado pelas enganosas propagandas que apontam a cidade como a “capital ecológica”, poderia começar por uma mudança drástica da postura que os motoristas adotam ao trânsito. Porque, em grande parte dos casos, o curitibano dirige mal e é pouco educado no volante.

Deixemos para tratar do desconhecimento das regras básicas de trânsito em outro artigo e do deliberado desrespeito ao CTB (Código de Trânsito Brasileiro). Neste texto, gostaríamos de tratar de dois problemas bastante comuns que contribuem para tornar o tráfego em Curitiba lento, perigoso, e, como resultado disso, muito estressante.

Em primeiro lugar, os curitibanos geralmente andam muito devagar. Os limites de velocidade devem ser considerados não apenas como o teto máximo a ser atingido pelos veículos, mas também como a velocidade recomendada para que o tráfego na via flua com um mínimo de rapidez. É assim nos grandes centros urbanos do mundo, deveria ser assim em Curitiba.

Logo, é um absurdo que, em uma via rápida cuja velocidade máxima é de 60 km/h (embora o Código de Trânsito Brasileiro autorize até 80 km/h nas vias urbanas principais), muitos motoristas insistam em andar a 40 km/h. E, o que é pior, trafegando pela via esquerda da pista, o que é inclusive um desrespeito ao CTB. O problema se torna ainda mais grave em horários de pico, quando o grande volume de tráfego exige que os motoristas, até em respeito aos horários das demais pessoas, andem mais rapidamente.

Outro grande problema do motorista curitibano é a desatenção, quase sempre associada a uma tendência a não manter os olhos sempre atentos nos espelhos retrovisores do carro. Pesquisas apontam que os erros humanos são responsáveis por 90% dos acidentes de trânsito, o que muitas vezes está ligado à distração dos motoristas. Quanto ao retrovisor, a regra é clara: se o equipamento existe em todos os veículos, é para ser usado.

Não adianta dizer que a culpa pelo problema é o excesso de veículos na cidade – mais de 573 mil em 2002, segundo o Detran/PR (Departamento de Trânsito do Paraná), o que confere à capital uma das maiores proporções de carros por habitante de todo o País. Em São Paulo, por exemplo, o trânsito está muito longe de ser perfeito. Mas, na maior cidade do País, há pelo menos a consciência de que os motoristas devem andar rápido o suficiente para não atrapalhar a passagem de quem vem de trás.

Mesmo fazendo vistas grossas ao modo como o Diretran administra os espaços públicos para estacionamentos e às falhas do sistema de controle de tráfego urbano da capital, também não adianta culpar os órgãos oficiais pelo problema. Em Brasília, os mesmos problemas se repetem. No entanto, na capital federal, os motoristas agem com maior educação, a ponto de parar o carro quando avistam alguém atravessando a rua.

A melhoria das condições de tráfego depende, em grande parte, portanto, de uma mudança radical de postura de muitos motoristas curitibanos. O bom sistema de transporte da cidade não dispensa o motorista de fazer a sua parte para reduzir o caos do tráfego de Curitiba. Infelizmente, porém, muitas pessoas ainda não se conscientizaram disso.

Aurélio Munhoz

(politica@parana-online.com.br) é editor-adjunto de Política de O Estado e mestrando em Sociologia Política pela UFPR.

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