O cavaleiro da esperança

Lula não se revela, nem ideologicamente nem como o revolucionário que parecia ser, semelhante ao Cavaleiro da Esperança, apelido que se deu ao líder comunista Luiz Carlos Prestes quando percorreu o Brasil em épica jornada. As expectativas com que foi esperado seu governo e a luta que, para conquistá-lo, empreendeu, já para não falar na ideologia que pregava e parecia ter, fazem de uma comparação algo aceitável. O atual presidente do Brasil seria o chefe da nação levado ao poder, pelo voto, por aqueles que não têm medo de mudar. Nem temem as esquerdas ou a troca de líderes burgueses por um proletário vindo das massas operárias, das lutas sindicais combatendo o poder estabelecido por décadas. Melhor dizendo, séculos.

Nas últimas pesquisas, Lula não vem caindo no conceito da opinião pública. Mas vem escorregando ladeira abaixo, depois de ter de repetir muito do que fizeram seus antecessores e de não realizar ou ter de postergar as mudanças enfaticamente prometidas. É o que revela a mais recente pesquisa CNT/Sensus, que mostra um conceito regular, porém cadente, do seu governo. A escusa ainda forte e presente: o culpado é o governo anterior, de FHC.

O fato de o governo Lula ser de poucos meses ainda faz com que a maioria dos brasileiros lhe credite um voto de confiança, cada vez menos eloqüente, mas que se reforça quando, na busca de culpados, olha-se para trás e vê-se a difícil situação que o País vivia, em particular nos últimos meses do governo FHC. A tese de que essa situação vivida agravou-se por causa da aproximação das eleições e da sedimentação da candidatura do próprio Lula é demasiado complexa para convencer as massas.

Hoje, no sétimo mês do governo petista, o que se nota é um descolamento entre o conceito de Lula e o de sua equipe. Ele, o presidente, continua num patamar mais alto de prestígio do que o de sua equipe e se observa que nele resiste enquanto os que se desgostam preferem culpar ministros e demais auxiliares, a aceitar que o próprio Lula estaria decepcionando. Ele só mudou ideológica e programaticamente. Mas continua um homem do povo, peladeiro, churrasqueiro, beijoqueiro, com sensibilidade social à flor da pele, preocupado com a parcela mais pobre da população. E pensando em dotar o País de uma legislação previdenciária e tributária que enseje justiça social.

A um povo que tem falta comida, escolas, serviços de saúde, segurança, habitações, e que sempre conviveu com diferenças sociais gritantes, abusivas, repugnantes, um presidente que fala a sua mesma língua, e ainda com admirável eloqüência, demora a perder a confiança. Ou as esperanças que captou. O quadro econômico-social é ruim, senão péssimo, e as esperanças persistentes em Lula, mesmo que encolhendo, são responsáveis pelo “mais ou menos” que ainda marca as pesquisas de opinião pública como esta última da CNT/Sensus.

O governo, entretanto, já está convencido de que é hora de algo oferecer ao povo, pois é passada a época de esperar, de plantar e já estamos no tempo em que é preciso começar a colher. Colher o que ainda nem foi plantado. O desemprego crescente, o encolhimento das estruturas produtivas e o descontentamento dos que acompanhavam o Lula ideológico como seu Cavaleiro da Esperança não se compensarão com o peladeiro da esperança por mais tempo. Já se exige mais ação e menos churrascadas.

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