O Brasil tem pressa

“Quem tem pressa, come cru”, diz o adágio popular. Esse ditado foi usado numa advertência de Lula a um ministro que reclamava mais verbas para a Educação. O ministro José Dirceu acaba de dizer que o Brasil tem pressa. O nosso povo quer para já o que esperava dos governos para ontem e ele promete só para amanhã. Ou, talvez, para depois de amanhã. A nação vem acumulando aspirações e necessidades há muito tempo e, havendo uma mudança radical na chefia do governo pela primeira vez, agora com um homem do povo, um operário no comando, espera que se faça tudo o mais rapidamente possível. O povo admite até comer cru. O importante é que tenha o que comer.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento acaba de revelar que o Brasil perdeu sete posições no ranking mundial de desenvolvimento humano. Atribuiu essa queda em especial à taxa de alfabetização. Recordemo-nos que o puxão de orelhas de Lula ocorreu justamente contra o então ministro da Educação, senador Cristóvam Buarque, que reclamava mais verbas para o ensino.

Segundo o relatório de 2004, o Índice de Desenvolvimento Humano do nosso país foi de 0,775, dois centésimos abaixo do registrado no ano anterior. Esse indicador considera avanços de cada país em três pontos fundamentais: esperança de vida, educação e Produto Interno Bruto (PIB) per capita, aquele que o governo decidiu que vai servir de base para os aumentos do salário mínimo. Também leva em conta a distribuição da riqueza e a desigualdade entre os gêneros. Neste ano, o Brasil está em 72.º lugar nesse índice. No ano passado ficou em 65.º.

Há dúvidas de que caminhamos para trás?

O PNUD divide os países em nações com desenvolvimento humano alto, médio e baixo. O PIB per capita brasileiro é de 7.770 dólares, comparável ao de alguns países considerados de desenvolvimento alto. Mas acontece que aqui a distribuição de renda é extremamente desigual. Em 1998, 20 por cento dos brasileiros mais pobres tinham acesso a apenas 2% da renda ou do consumo. E os 20% mais ricos ficavam com 64,4% da riqueza. Em 2002, 8,2 por cento da nossa população tinha renda igual ou inferior a um dólar por dia. Ou seja, pobre de marré de si.

A situação brasileira é considerada pior do que a dos seus países parceiros da América Latina, à exceção do Paraguai. Os outros integrantes do Mercosul obtiveram um desenvolvimento humano considerado alto. No ranking da ONU, a Argentina ficou em 34.º lugar e o Uruguai, em 46.º. A Costa Rica, democracia exemplar no continente, está em 42.º e Cuba em 52.º. O PIB do Brasil subiu em 2002, em comparação com 2001, e a esperança de vida de 67,8 para 68 anos. Apesar disso, em termos de desenvolvimento humano, estamos em queda livre. A nossa taxa de alfabetização entre adultos diminuiu de 87,3% em 2001, para 86,4% no ano seguinte. Oito por cento das crianças e dos jovens estavam fora da escola em 2002.

A Noruega está em primeiro lugar, no mundo, em desenvolvimento humano, num ranking que inclui 177 países. Serra Leoa, na África, está no último lugar. Notemos que os dados de decadência do Brasil não são só deste governo, mas também do anterior e também dos que ficaram no passado. Pouco ou nada melhoramos e em muito regredimos. Não é para ter pressa e desesperar-se com um governo que sempre deixa tudo para depois e vive pedindo calma e paciência?

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