O Brasil e a guerra

Verdades e equívocos, propaganda enganosa contra e a favor e a conhecida soberba norte-americana sempre provocaram profundas desconfianças entre os brasileiros a respeito dos EUA. Isso nunca evitou que ambos os países mantivessem estreitas relações, inclusive comerciais, com alguns arrufos em razão do protecionismo ianque e as acusações de que expediente da mesma ordem praticamos em defesa de nossos produtos. Mais rico, os Estados Unidos sempre atraíram muitos brasileiros como turistas, para negócios ou mesmo como emigrantes, mesmo que ilegais. Tal fato sempre aconteceu em relação aos EUA de parte de outros povos. Justifica-se com poucas palavras: eles são os mais ricos e nós, subdesenvolvidos, em desenvolvimento ou pobres mesmo.

Entretanto, nunca houve simpatia sincera dos brasileiros em relação ao país de Bush, em especial por questões como a histórica ignorância deles a nosso respeito e porque, direta ou indiretamente, comandaram sempre o dinheiro de que nunca pudemos prescindir e sempre tivemos de pedir emprestado. E, não raro, com elevadíssimos juros. Mas, as relações entre países não se fazem só de simpatias e antipatias. As do Brasil com os EUA são estreitas porque muitos são os interesses comuns, sejam políticos, econômicos e, em menor escala, culturais. Isso recomendaria a qualquer governo brasileiro, inclusive o petista de Lula, tradicionalmente antiamericano, relações se possível amigáveis e, de qualquer forma, cautelosas, para não criar atritos insuperáveis.

Foi o que Lula fez e, assim agindo, defendeu os interesses do Brasil.

Na questão da guerra dos Estados Unidos, ou melhor, de George Bush contra o Iraque, mais contra Saddam Hussein e sua família, Lula foi mais duro e incisivo. Respondeu muito bem ao pensamento do povo brasileiro, que considerou a posição autoritária, ditatorial, intervencionista, absolutamente imoral e injustificável. Como membro da ONU e entendendo que aquela organização é o foro para resolver os problemas entre os povos, via diplomática, o Brasil postou-se em defesa daquele congresso de nações. Defendeu a livre determinação dos povos e a Organização das Nações Unidas. Nunca postou-se ao lado de Saddam Hussein e sua sanguinária ditadura no Iraque.

A posição franca e corajosa do Brasil, expressa por seu presidente, não poderia limitar-se a meras declarações de questionamento. O presidente brasileiro usou dos instrumentos diplomáticos, conversou por telefone ou pessoalmente com outros chefes de Estado e com o próprio secretário-geral da ONU. Enfim, tudo fez para preservar a paz e, em se tratando de um Brasil que ainda não é potência mundial, fez mais do que seria de se esperar. Tantos governantes, como ele ou até mais interessados, calaram-se covardemente ou aderiram ao mais forte, por mero interesse. Para Lula, expressando o pensamento dos brasileiros, o interesse maior é o democrático, da paz, da não-intervenção, do uso da diplomacia substituindo os foguetes e canhões. Somos um país pacifista e isto não é simples retórica. Somos também um país que abriga povos vindos de todo o mundo, inclusive árabes. Os árabes, sejam cristãos ou muçulmanos, contam-se aos milhões e são nossos concidadãos, naturais, naturalizados e descendentes.

Cabe um caloroso elogio a Lula. Ele disse com destemor o que todo o povo brasileiro pensa.

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