O bode argentino

Duas notícias importantes fecharam a semana que passou: a primeira, inscrita sobre todos os jornais e noticiosos, deu conta de que as contas do governo fecharam o mês de abril último com um superávit sem precedentes em nossa história; a segunda, que o nível de desemprego no País atingiu, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o nível mais alto dos últimos dois anos. Para os simples contribuintes aqui da planície isso significa a confirmação de um fato: o governo vai bem, mas a economia vai de mal a pior.

O IBGE diz que a coisa não é bem assim. Como assim? O número – advertem exegetas do instituto – não deve ser tomado isoladamente. Embora os indicadores de ocupação sejam maiores – explicam – está havendo aumento do número de trabalhadores. Porém, em ritmo inferior ao aumento da população ativa. O que, novamente, para leigos, dá na mesma. Na televisão, vimos e ouvimos a comemoração do governo porque o mês de março registrou 0,3% de crescimento no emprego sobre fevereiro – mês curto e cheio de carnaval. Mas se comparado esse março último com o março do ano passado, a queda foi de 5,3%. Isso é incontestável: estamos piorando e não melhorando.

A arrecadação de qualquer governo segue a lógica da realidade econômica dos governados. Se a economia vai bem, as burras ficam cheias. Economia em baixa, aumenta a inadimplência, a sonegação e a falência. No Brasil, a lógica não vale, faz tempo. Números não contestados (como quase todas as estatísticas nacionais) dão conta de que nos anos do real, os impostos e tributos subiram além dos quarenta por cento. Tamanha “reforma tributária” promovida na surdina e atendendo apenas ao objetivo de arrecadar nada tem a ver com o desenvolvimento econômico.

Ao comemorar o superávit recorde de abril, que acumulou no caixa nacional um saldo positivo de quase nove bilhões de reais, os economistas do governo justificam: “É bom e necessário. Sem isso, a gente vira Argentina”. O mesmo argumento ultimamente usado para aplainar os caminhos da prorrogação da CPMF e suas incidências em cascata sobre toda a atividade dos contribuintes. Guloso, o Tesouro, que acumulou quase 41 bilhões de reais de superávit nos últimos doze meses, não está contente ainda. É um superávit pífio diante do tamanho do rombo de nossa dívida, que saltou para R$ 684,63 bilhões. Assim, só de juros pagamos uma fábula, eis a questão.

Um pequeno dado – e é importante que ele seja considerado – intriga: o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, garante que o governo não economizou além do necessário para cumprir a meta de superávit firmada com o FMI. Colaboraram todos, União, Estados, Municípios e também as estatais, mas o esforço maior ficou, como sempre, por conta dos contribuintes. Assim, o exorcismo da argentinização de nossa economia precisa urgentemente incluir um ingrediente até hoje faltante na fórmula adotada: o governo deve fazer a sua parte com um pouco mais de ardor. Do contrário, a vaca vai pro brejo. Os cortes nas gorduras, uma vez anunciados, caíram de moda faz tempo. Quem está serrando osso são trabalhadores, empresários e desempregados em número cada vez mais crescente.

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