Nossa (in)segurança

O Paraná conta hoje com quatro mil policiais civis, quando seu efetivo deveria ser de, no mínimo, doze mil. Em vez dos 18 mil policiais militares que temos, deveríamos ter cerca de 25 mil. Estamos num lugar da história localizado mais ou menos há doze anos atrás. Esta situação dá uma pálida idéia de como andam as coisas com a segurança pública num Estado que, segundo o governo diz no discurso oficial, está bem, obrigado.

A denúncia de nossas debilidades no setor de segurança não vem de gente leiga no assunto. Quem a faz são os próprios delegados de Polícia Civil, no documento de encerramento do encontro (o primeiro) realizado recentemente em Cornélio Procópio. Por isso merece consideração especial. E nem se diga que cartas e enunciados do gênero costumam pecar por excesso de preocupações políticas. O equívoco – diz claramente o documento – está na política de segurança pública utilizada pelo governo do Estado do Paraná.

São quatorze itens que desmontam os argumentos do governo, cujo representante de área (o secretário de Segurança) não se dignou a participar do encontro. O presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Paraná, Fauze Salmen, ao comentar o descompasso entre o discurso oficial e a prática sentenciou: “O Paraná, proporcionalmente, é o Estado com o menor número de policiais civis do Brasil”. Alguém pode até discutir o número de um policial para cada 800 pessoas (aqui temos um para cada 6.638 pessoas), mas é inadmissível que municípios continuem sem delegado próprio. Segundo Salmen, tem delegado atendendo até seis ou sete cidades de uma só vez…

Segundo outros participantes do encontro, o discurso do governo é apenas uma cortina de fumaça para atrapalhar a real visão do problema em que se encontra o setor de segurança pública no Estado. Carlos Bacila, um ex-delegado operacional da Delegacia de Homicídios de Curitiba, assegura que existem bairros da Capital onde a violência é, proporcionalmente, 60% maior do que a verificada em São Paulo. Portanto, não temos nada a invejar e a eclosão do problema é apenas uma questão de tempo. “Temos que fazer algo antes que a situação se estenda para todo o Estado”, diz Bacila.

Ao comentar a carta de Cornélio, o governo, através do delegado-chefe da Polícia Civil, Leonyl Ribeiro, procurou diminuir a gravidade das denúncias, dizendo ser normal a manifestação dos policiais por melhores condições de trabalho. “Muita coisa já foi feita – disse ele – mas concordo que muita coisa ainda deve ser realizada pela segurança pública. Todavia, não se pode resolver tudo num piscar de olhos (sic), leva algum tempo”. Ora, já estamos terminando o segundo mandato do governador Jaime Lerner e isso não significa exatamente um piscar de olhos… Atribuir – como também fez Leonyl Ribeiro – à Lei de Responsabilidade Fiscal a impossibilidade de fazer melhor trabalho nesta área pode ser apenas uma boa desculpa.

É importante que o governo não mistifique as coisas. E que não leve as advertências dos delegados de polícia apenas para o lado político. Os quatorze itens da Carta de Cornélio Procópio podem ser um bom começo para uma séria reflexão sobre o tema. Afinal, não há discurso oficial que consiga tapar o sol com a peneira: temos problemas – e sérios – na área de segurança pública.

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