Não cobrem ouro de heróis

Gostaria de me apoderar deste momento mágico e fantástico, quando se disputa uma competição internacional de grande porte, como os Jogos Pan-Americanos, envolvendo o Brasil e colocando-o frente a frente com muitas outras nações da América, muitas das quais com os mesmos problemas sociais. Qual a razão de nosso país ser uma decepção tão grande, em relação às conquistas de medalhas de ouro? Decidi, em poucas palavras, tentar dar uma resposta aos leitores de O Estado.

Somos muito presunçosos no Brasil. Nosso país produz, ao deus-dará, um sem-número de talentos natos. Senão, como explicar o brasileiro conquistar medalhas, ou mesmo participar de finais de competições grandes como o Pan-Americano, que reúne mais de 40 países, levando para esta competição os seus melhores atletas e, mesmo assim ainda ter neste seleto grupo de grandes talentos, conterrâneos nossos que se destacam?

O que realmente me deixa perplexo, é saber que ainda temos alguns talentos, que dedicam tempo, esforço e se dispõem a defender países onde quem realmente deveria comandar se aproveita dos cargos para usurpar. É inacreditável que um cara tão competente como o Bernardo Rezende, o Bernardinho da seleção de vôlei, ainda consiga fazer de seus comandados os melhores do mundo, pelo simples prazer de poder dizer que nós podemos ser os melhores, provando também que, com apoio e estrutura, temos possibilidade para ser uma potência olímpica e, mesmo assim, ainda é questionado quando não conquista o lugar mais alto do pódio.

No Brasil, poucos são os esportes onde há organização. Mas posso afirmar, sem sombra de dúvida de que estarei cometendo qualquer injustiça, não há um esporte olímpico sequer que tenha como se desenvolver, pela gigantesca falta de planejamento e apoio. Não existe uma política esportiva nacional. Não há um “plano plurianual” para desenvolver qualquer esporte. Dá para se contar nos dedos as entidades nacionais que cumprem esse papel. Alguns dirigentes esportivos se desiludem pela falta de perspectiva, pois o que recebem de recursos, mal dá para manter a burocracia de sua entidade funcionando.

Ninguém no Brasil pode cobrar resultados de atletas. Afinal, em sua grande maioria, como as meninas do handebol, são trabalhadores de alguma atividade que, pelo simples prazer de gostar de um determinado esporte, hoje integram as seleções brasileiras. Pois se dependessem de recursos de suas confederações, não poderiam sobreviver. Por isso, são profissionais (como o dentista Rodrigo Bastos, de Guarapuava, primeira medalha brasileira no Pan) e outros que, pelo simples prazer de competir, vão à luta para honrar o Brasil.

Bem diferente de países que ocupam as primeiras posições nos pan-americanos, que conquistam medalhas e mais medalhas por terem o respaldo de governos, que respeitam seus atletas, ao colocarem em prática políticas desportivas.

Só não venham, em cima da hora, pedir ao pobre e abandonado atleta brasileiro que conquiste mais ouro, só porque o Pan de 2007 será no Rio de Janeiro. Sem respaldo, planejamento, respeito e organização, não podemos alcançar o sucesso de obter vitórias em casa.

Márcio Rodrigues

(marciorodrigues@)oestadodoparana.com.br) é editor-adjunto em O Estado.

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