União Européia: passo importante para a fraternidade humana

Para muita gente as coisas sempre vão de mal a pior. Só é impressionada pelo desemprego, violência, falta de dinheiro, guerras, catástrofes naturais, falta de fé em Deus, maldade no coração dos homens. Há também os otimistas inveterados, muitos deles levianos, alienados ou encastelados no egoísmo. O mundo está difícil, mas sempre melhor. Um exemplo?

Apesar de que motivadas basicamente por interesses econômicos, 450 milhões de pessoas de 25 países, abrem mão de boa parte de seus direitos individuais, trocando-os, de bom grado, por um grau superior de bem-estar coletivo. O dia 1.º de maio, data de per si só bastante significativa no mundo inteiro, marcou o ingresso oficial de mais 10 integrantes à União Européia. Criada em 1957 por seis países em função de interesses comuns na produção e comercialização do carvão e do aço, em 1994 passou a contar com Parlamento Comum e obteve um salto histórico quando no Ano-Novo de 1999 passou a circular o euro, moeda única, nas fronteiras de seus então 15 membros, admitidos ao clube restrito pelo seu poderio econômico.

Agora, com a inclusão de mais 10 componentes, quase todos de menor expressividade, além de vários outros pretendentes, torna-se realidade algo que, diante do testemunho da história marcada por tantas guerras, preconceitos e segregações, simbolizadas, só na época mais recente, pelo holocausto judeu e a “Cortina de Ferro” comunista, parecia impossível. Rasgou-se a cortina dos regimes autoritários, ruiu o Muro de Berlim e a integração econômica européia mostra ao mundo que se pode viver em forma de cooperação mútua, pondo-se os recursos de todos a serviço do bem comum.

Há quem critique sob argumento de que os traços nacionais irão se enfraquecendo. Embora entendamos que isso só se dará num nível muito pequeno e lentamente, perguntamos: mas não é exatamente isto o desejável? Para que serviram até hoje o nacionalismo exacerbado senão para isolar, corromper, despertar a cobiça e provocar divisões e guerras entre os povos? Não seria ideal que mesmo mantidas as diferenças de idioma, cultura, formação étnica, etc., brasileiros e argentinos, por exemplo, se tratassem mais amavelmente como vizinhos, amigos e irmãos? Que a rivalidade esportiva e os símbolos nacionais não incitassem à predisposição de afixar defeitos coletivos a ambos os povos?

Observemos a resposta dada pelos Espíritos Superiores a Allan Kardec na questão 789 de O Livro dos Espíritos. O codificador indagou: “O progresso reunirá um dia todos os povos da Terra em uma só nação?” A resposta: “Não em uma só nação, isso é impossível porque da diversidade… nascem os costumes e as necessidades diferentes que constituem as nacionalidades… lhes serão necessárias sempre leis próprias a esses costumes e necessidades. Mas a caridade… não faz distinção… pela cor. Quando a lei de Deus for… a base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para outro… então viverão felizes e em paz…”

Em complemento recomendamos a leitura do capítulo VII da referida obra, mais particularmente os itens “Marcha do progresso” (Q. 779 a 785), “Civilização” (Q. 790 a 793) e “Progresso da legislação humana” (Q. 794 a 797). Transcrevemos aqui apenas uma delas, a de número 793, quando se faz a distinção entre a civilização verdadeira e a aparente. “Vós a reconhecereis no desenvolvimento moral. Acreditais estar bem avançados porque tendes feito grandes descobertas e invenções maravilhosas, e estais melhor alojados e melhor vestidos do que os selvagens. Todavia, não tendes, verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados senão quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e puderdes viver como irmãos, praticando a caridade cristã. Até lá, não sois senão povos esclarecidos, não tendo percorrido senão a primeira fase da civilização”.

Concluindo: a União Européia representa um avanço extraordinário nas relações entre os povos, mas ainda muito tímido face à autêntica fraternidade onde, aos interesses econômicos, deve ser acrescentado, com preferência de valor, o trabalho pela construção da verdadeira felicidade humana que, como se sabe, não se resume ao conforto material. E isto só poderá ser alcançado pelo estabelecimento da paz não só de um bloco de privilegiados, mas como norma geral a ser seguida em todo o planeta. O homem será feliz quando não houver mais miséria, tiranias, injustiças e homens matando homens.

(Coluna mantida pela Associação de Divulgadores do Espiritismo do Paraná. E-mail: adepr@adepr.com.br )

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