A Tailândia suspendeu a lei marcial na maior parte do país nesta quarta-feira, mas dez meses após tomar o poder por meio de um golpe, a junta militar ainda está no comando, essencialmente com poderes absolutos.

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O governo do líder do golpe, Prayuth Chan-ocha, enfrentava crescentes pressões de governos estrangeiros, grupos de direitos humanos e particularmente da própria comunidade empresarial do país para que suspendesse a lei marcial.

Embora seus efeitos não sejam visíveis na vida cotidiana – há poucos soldados nas ruas – o fato de a lei estar em vigor assusta investidores estrangeiros e prejudica o turismo, que representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Operadoras de turismo dizem que a lei prejudica o setor, em parte porque muitas companhias de seguro não cobrem países sob lei marcial.

Nesta quarta-feira, o rei tailandês aprovou oficialmente o pedido da junta para a suspensão da lei marcial. O palácio emitiu um comunicado dizendo que ela “já não é mais necessária”.

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Em seu lugar, Prayuth disse que vai invocar uma medida especial de segurança da Constituição interina, imposta pela junta, chamada artigo 44. Críticos do artigo dizem que ele dá a Prayuth autoridade não controlada sobre todos os três poderes do governo e o absolve de qualquer responsabilidade geral por suas ações.

“Vista de fora, a suspensão da lei marcial é uma boa notícia para os negócios e o turismo, disse Thitinan Pongsudhirak, cientista político e diretor do Instituto para Segurança e Estudos Internacionais da Universidade Chulalongkorn, em Bangcoc.

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“Mas vista de dentro, estamos funcionalmente no mesmo barco”, disse ele sobre o artigo 44. “Restrições similares ainda estão em vigor. E onde houver grupos de dissidência e expressão política a reação deve ser ainda mais draconiana.”

Sob o artigo 44, Prayuth tem o poder de dar qualquer ordem em nome da segurança nacional. Alguns meios de comunicação do país se referem a ele como “a lei do ditador”. Sob uma lei semelhante na década de 1960, um ditador tailandês realizou execuções sumárias.

A principal diferença entre as duas medidas é que a lei marcial, que continua em vigor em várias províncias do sul do país onde o Exército luta contra uma insurgência que já dura décadas, é que ela é muito específica e o artigo 44 é muito vago.

A lei marcial coloca o Exército no controle da segurança pública e claramente define seu uso num documento de sete páginas originalmente promulgado em 1907 e que sofreu emendas no decorrer dos anos. A lei permite prisões sem mandados, julgamentos de suspeitos em tribunais militares, a proibição de reuniões públicas e a censura para preservar a ordem.

O artigo 44 é um parágrafo único explicitamente formulado para a Constituição interina que dá ao líder da junta o poder de substituir qualquer parte do governo em nome da segurança nacional. Fonte: Associated Press.