Síria impede observadores da ONU de avaliar massacre

Os observadores da ONU na Síria não puderam chegar nesta quinta-feira à aldeia de Al Qubeir para avaliar o massacre cometido ontem no local, que provocou a morte de dezenas de pessoas e levou a oposição síria a declarar dois dias de luto.

O chefe da missão, general Robert Mood, afirmou em comunicado que o exército sírio os impediu de chegar à zona do massacre, atribuído pelos opositores às forças do regime, que, por sua parte, refutam qualquer envolvimento no episódio.

Mood explicou que os observadores foram bloqueados por grupos de civis em vários postos de controle do exército, e foram avisados por moradores de que se entrassem em Al Qubeir, situada na província central de Hama, estariam em perigo.

“Apesar desses riscos, os observadores estão se esforçando para entrar no vilarejo”, disse o general, que expressou sua preocupação com as restrições que os impede de “observar, avaliar e informar” o que ocorreu.

Depois de serem barrados, os analistas da ONU se dirigiram à cidade vizinha de Morek e, no caminho, um dos veículos do comboio foi atingido por um tiro. Uma fonte da ONU informou à Agência Efe que não houve vítimas no ataque e que os observadores tentarão novamente amanhã entrar no local.

As declarações contrastam com a versão das autoridades sírias, que asseguram, segundo fonte oficial citada pela televisão, que os “boinas azuis” entraram em Al Qubeir com todas as facilidades garantidas.
Em resposta ao bloqueio, o principal grupo opositor da Síria no exílio, o Conselho Nacional Sírio (CNS), convocou hoje dois dias de luto, além de manifestações civis.

De acordo com o CNS, 80 civis foram mortos – entre eles, 22 menores e 20 mulheres – pelas forças do regime, enquanto 30 pessoas foram sequestradas e estão em paradeiro desconhecido.

Ainda há dúvidas sobre o número de vítimas. O Observatório Sírio de Direitos Humanos divulga que são 49, enquanto grupos como a Comissão Geral da Revolução Síria e os Comitês de Coordenação Local falam em 78 mortos.

O conselheiro de comunicação do opositor Exército Livre Sírio (ELS) no país, Fahd Al-Masri, afirmou em comunicado que por volta das 14h locais (8h em Brasília) três tanques se dirigiram a Al Qubeir, que têm cerca de 25 casas, e bombardearam a vila.

Segundo Masri, uma hora depois vários carros e ônibus com “shabiha” (milícias pró-governo) irromperam na aldeia e começaram a executar os moradores com facas, entre eles, 35 membros da família Al Yatim.

A ativista Rasha al Hamaui, de Hama, explicou à Efe pela internet que os “shabiha”, apoiados pelo exército, degolaram dezenas de pessoas e dispararam contra os civis “à queima-roupa”.

“A nova forma de assassinato utilizada é queimar pessoas vivas”, denunciou a ativista, que assinalou que a aldeia está habitada por uma maioria sunita, enquanto o presidente sírio, Bashar al-Assad, pertence à minoria alauí.

A reação do regime perante as acusações não demorou: ontem à noite, o governo negou qualquer envolvimento no ataque, que atribuiu a “grupos terroristas armados”, informou hoje a agência de notícias oficial “Sana”. Na versão de Damasco, “um grupo terrorista armado cometeu o massacre que causou a morte de nove pessoas, entre elas, mulheres e crianças”.

Após o massacre, os habitantes da região pediram ajuda das autoridades, que se dirigiram a Al Qubeir, onde houve enfrentamentos entre forças de segurança e homens armados, levando à morte de dois supostos terroristas e dois soldados de segurança.

O massacre de Al Qubeir se soma ao do dia 25 de maio em Houla, na província central do Homs, no qual morreram mais de 100 pessoas, e que provocou um aumento da pressão da comunidade internacional sobre Damasco.

Em reunião hoje nas Nações Unidas, o secretário-geral, Ban Ki-moon, afirmou que o governo de Assad “perdeu toda a legitimidade”, e alertou que o perigo de uma guerra civil na Síria é “iminente e real”.

Espera-se que o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para a Síria, Kofi Annan, explique na reunião suas novas propostas para salvar seu plano de paz, que estipula, entre outros pontos, um cessar-fogo, em vigor desde 12 de abril mas que não foi respeitado pelas partes.

 

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